Leonardo Batista


OS ELAMITAS
Leonardo Batista

Quem foram os elamitas?
O estudo sobre os elamitas é muito mais limitado do que outras regiões do antigo Oriente Próximo. Portanto, podemos apenas esboçar as circunstâncias de sua história, dependendo quase exclusivamente de fontes mesopotâmicas, tendo assim a perspectiva dessa sociedade. O Elam foi importante para o funcionamento das estruturas desse período da antiguidade, pois não podemos enxergar essa temporalidade como “civilizações” ilhadas em seus mundos estáticos como é apresentado em muitos livros e manuais acadêmicos. Ao contrário, devemos entender a dinâmica dessas sociedades em um funcionamento conjunto, onde existiam trocas culturais que com o tempo alcançaram outros nichos e áreas do antigo Oriente, preenchendo e expandido a cultura sofisticada que estava imbuída em centros do sul da Mesopotâmia, e aos poucos atingindo outros polos.
É complicado estipular que tipo de organização política existiu no Elam. Era algo como entidades políticas e culturais vagamente unidas, podendo ser considerados grupos que detinham uma característica de cidades-estados ao sudoeste do atual Irã (principalmente na região de Susa) da era Bronze até pelo menos o início do período islâmico, onde foram adversários ao longo de sua história dos sumérios, acádios, babilônicos e assírios. Ainda mais difícil é descrever como era a estabilidade política elamita durante sua existência, é o que Daniel T. Potts (2012, p. 37) fala sobre partes dessa história, algumas vezes sob o controle da Mesopotâmia, e outras com uma dinastia que florescia independente no que são hoje as regiões iranianas de Fars, Cuzistão ou Luristão. A escassez de fontes e a difusão da língua mesopotâmica semita na região oeste elamita cria uma dependência de textos estrangeiros que são mais abundantes, ao passo de unir a política, a sociedade e a história cultural dessa importante região.
Para Diakonoff (1985, p.5), a maioria dessas cidades-estados são apenas conhecidas pelos nomes, sendo que hipóteses sobre suas localizações foram apresentadas, algumas vagas e outras ligadas as nomenclaturas antigas aos atuais sítios arqueológicos, embora a existência de nenhuma tenha sido provada.  Partindo desse ponto de vista, o Elam pode ter sido uma cidade-estado separada de Susa situada talvez acima das colinas, sendo que mais tarde o termo foi difundido para a conotação geral da região como um todo, incluindo também as terras mais baixas (DIAKONOFF, 1985, p.5).
Matthew W. Stolper (1984, p. 3) comenta que por causa da maioria das fontes relacionadas ao Elam serem originárias dos antigos estados vizinhos da Mesopotâmia, essas conceituam a região com um parecer de continuo histórico, porém camufladas com uma retórica tendenciosa, enfatizando contatos hostis e rendendo poucas informações precisas sobre o desenvolvimento além do alcance político e influência mesopotâmica. Essa perspectiva enviesada só é balanceada por textos próprios do Elam. Parte majoritária das fontes internas derivam do Cuzistão, sendo volumosa em Susa. Elas documentam a importância dessa região na história elamita, mas também indicam um crucial desenvolvimento político ao norte e ao leste da susiana, as margens expostas das conquistas mesopotâmicas. Textos advindos de outros sítios continuam sendo raros. Portanto, apesar das fontes internas avaliarem ou complementarem o registro mesopotâmico, elas mostram a história elamita de uma maneira monocêntrica (da perspectiva da região oeste), na qual pode distorcer algumas circunstâncias (STOLPER, 1984, p.4).
Figura 1 - Mapa conceitual do Elam 2000 a.C

O nome Elam, assim como outros nomes dados a povos da antiguidade pela historiografia ocidental foi cunhado da Bíblia. Piotr Steinkeller (2018, p. 177) explica que o termo ‘êlām é uma tipologia do hebreu herdado fundamentalmente da palavra suméria Elam (em acadiano Elamtu), sendo um exônimo usado pelos babilônicos para designar os habitantes das planícies iranianas e outros grupos étnicos que ali viviam. Entre as designações nativas do platô iranino, o termo mais antigo documentado desde o período sargônico é Awan. Até onde pode ser determinado Awan denota o sudeste do Cuzistão e as adjacentes das planícies do Irã, estendendo-se mais para o leste até Ashan e Marhashi. Não sabemos se Awan também apresentava conotações étnicas e linguísticas. Outra palavra nativa para essa região é Hatamti ou Haltamti, na qual é claramente documentada somente durante o antigo período babilônico (STEINKELLER, 2018, p. 178).
Língua e sistema de escrita
A língua elamita e sua tradução em partes ainda é envolta de mistérios, sendo uma tarefa hercúlea para os filólogos entenderem seu significado. Jan Tavenier (2018, p. 416) argumenta que a língua elamita foi falada no sudoeste do Iran entre pelo menos os séculos XXIII e IV a.C, período esses que são atestadas epigraficamentes. A língua elamita é considera isolada, sendo o porquê dessa circunstância parcialmente desconhecido. Pode ter existido uma ligação com as línguas dravídicas, havendo uma separação entre essas matrizes linguísticas no quinto milênio a.C. Porém o não completo entendimento do elamita dificulta o trabalho dos especialistas para tal reconstrução.
A composição étnica do Elam é um total quebra-cabeça, qualquer conjectura não passará de mera suposição sobre os grupos que ali coexistiram. Diakonoff (1985, p. 2) demonstra um panorama para essa complexibilidade do quadro étnico elamita, e pondera que as tribos das planícies iranianas pertenciam a família linguística do nordeste do Cáucaso. Entre noroeste do platô, e ao sudeste proto-dravídico, podem ter existido povos que falavam línguas arcaicas, aparentemente desconexas das famílias linguísticas existentes, como o caso do sumério na Mesopotâmia.
A arqueologia é de grande ajuda para trazer o número relativo de vestígios para a luz dessa área tão delicada da antiguidade, sendo sua relação bem pertinente para a amplitude do conhecimento do platô oeste iraniano do quarto milênio a.C. O que faz a história do Elam tornar-se ainda mais complexa é a falta de comparação das fontes, limitadas pela insuficiente tradução. É importante o cuidado com o conteúdo enviesado das referências dos arredores mesopotâmicos. A maioria dos registros encontrados são de aspectos baseados na economia local. Pode-se classificar essas fontes textuais em duas etapas: O proto-elamita e o elamita linear.   
O proto-elamita segundo R.K Englund (1998, p. 325) é um termo utilizado para a terminologia escrita que existiu no platô da susiana e nas planícies iranianas por volta de 3050-2900 a.C. Mais ou menos correspondendo a Jamdat Nasr/ Uruk III, ao longo do Período dinástico recente I na Mesopotâmia. Os tabletes do proto-elamita são os primeiros documentos escritos de forma estruturada na região; os inscritos consistem em signos numéricos e ideográficos. Não se sabe ao certo se existiu uma língua precursora, e essas inscrições foram parcialmente decifradas. Além do mais, conclusões sobre o conteúdo dos textos proto-elamitas podem ser aproximadas de analises contextuais e de similaridades formais dos tabletes do proto-cuneiforme da Mesopotâmia. A estrutura dos documentos publicados possui contas e o uso de sinais numéricos e outros para objetos em escrituração podem ser de certa forma esclarecidas (ENGLUND, 1998, p. 325)
Figura 2 – Proto-Elamita

O conteúdo desses documentos é de caráter administrativo, centrados na produção e abastecimento de alimentos para o cotidiano. Jacob L. Dahl (2018, p. 386) comenta que os textos relacionados a produção de comida incluíam possivelmente escritos de semeadura e colheita, provisões para camponeses e pastoreio de ovelhas e cabras. Os relacionados ao armazenamento de alimentos não direcionavam detalhadamente o conteúdo do mesmo (celeiros e armazéns), mas incluíam informações importantes para o planejamento da estocagem e de como manter os registros.
A tradução do proto-elamita hoje está quase completa, mas como explica Englund (1998, p. 326) essa foi dificultada pela falta de ferramentas filológicas necessárias. Sendo que o primeiro passo foi uma lista de sinais confiáveis e limpas de variantes redundantes para oferecer uma ideia aproximada do número e frequência dos sinais no repertório do escriba, também fornecendo um instrumento de transcrição para a análise de combinação e contextos simples. Dahl (2018, p. 387) lembra que simplicidade do proto-elamita pode ser explicada pelo fato de essa ser uma escrita não completamente desenvolvida, mas uma espécie de protótipo criada para propósitos administrativos.
O elamita linear é uma escrita ainda mais obscura do que a anterior, isso pelo fato de sua tradução ainda não existir, o que torna praticamente impossível qualquer tipo de interpretação do conteúdo dessas fontes. Mirjo Salvini (1998, p. 330) descreve essa forma como sendo o sistema usado no final do terceiro milênio a.C por Puzur-Inšušinak (último rei dos doze pertencentes da dinastia de Awan). Ele governou por volta de 2150 a.C e foi contemporâneo de Ur-Nammur, primeiro soberano da III dinastia de Ur e Gudea de Lagash.








Figura – 3 Elamita Linear

Esse sistema pode ter sido derivado do proto-elamita, no qual possui alguns sinais em comum. Porém para François Desset (2018, p. 402), a hipótese de uma conexão genética com o proto-elamita, (que desapareceu por volta de 2800 a.C) está longe de ser provada. Sendo que essa só seria aceita se formatos similares de sinais entre as duas escritas tivessem o mesmo logograma, ou o valor fonético. Como essa escrita continua indecifrável, uma cautelosa aproximação sugere que o elamita linear é um sistema ad hoc da segunda metade do terceiro milênio, sem nenhum ancestral ou herdeiro (DESSET, 2018, p. 402).  Os documentos conhecidos por utilizar esse tipo de escrita são cartas, vasos e selos, que estão amostra nos museus do Louvre e de Teerã.
História política
Como já citadas, as dificuldades para montar uma perspectiva histórica elamita são muito limitadas, necessitando apoio incondicional da arqueologia. Não obstante, ainda podemos ter um panorama da história política do Elam, embora com algumas lacunas, observamos as interações sempre existentes com outras localidades do Oriente Próximo. Há uma periodização que divide a história desses povos (assim como em outras sociedades da antiguidade), sendo separada em três períodos: Antigo período elamita, Médio elamita e Neo-elamita.
Começamos a ver os primeiros soberanos do Elam pelo documento conhecido como lista de reis sumérios, onde aparentemente Enmebaragesi de Kish ataca a região, mas como bem lembra Potts (2012, p. 40), os especialistas atuais olham com ressalva a existência do suposto rei de Kish, assim como a historicidade de uma parte dos reis pré-acadianos citados nessa lista. O Antigo elamita ocorreu por volta de 2400-1600 a.C, um período relativamente conturbado, onde houve ora uma dependência elamita sob o poder mesopotâmico, ora uma certa independência.
Acredita-se que a primeira dinastia elamita foi a de Awan (2400- 2100 a.C), sendo parcialmente contemporânea de Sargão (2340-2284 a.C). Puzur-Inšušinak é o soberano mais conhecido dessa dinastia, e foi também o último. Diakonoff (1985, p. 10) fala que nas inscrições acadianas esse rei tenta imitar títulos reais mesopotâmicos como o “rei dos quatro cantos da terra”, conquistando cerca de sessenta regiões em diferentes lugares. Potts (2012, p. 41) descreve mais títulos para a representação do primeiro soberano elamita, como por exemplo,  ensí de Susa GÌR.NÍTA (vassalo?, governador militar?) do Elam, e rei (lugal) de Awan, sendo tentador pensar que esses diferentes títulos adotados  por Puzur-Inšušinak de fato replicava sua gradual ascensão de governador de Susa no período acadiano tardio para rei do Elam.  François Vallat (1998, p. 302) considera que alguns desses lugares devem ter sido Susa e Ashan, em uma conduta para iniciar uma união nesses estados dispersos que foi o Elam, subjugando também o rei de Simaški. Seus sucessores foram incapazes de manter Susa na esfera elamita. Puzur-Inšušinak deixou vários documentos com seu nome em Susa, sendo alguns escritos em acadiano e outros em elamita linear.
A dinastia Simaški (2100- 1970 a.C) aparentemente chegou ao poder após a de Awan, embora não haja informações de como essa sucessão foi realizada. Acredita-se que existiu pelo menos doze reis nessa dinastia segunda a lista real de Susa (nove atestados em outras fontes) e foram contemporâneos da III dinastia de Ur (2112-2004 a.C). Vallat (1998, p. 302) comenta que a primeira fase desse período foi caracterizada por incessantes ataques mesopotâmicos no platô iraniano. Essas campanhas também alternaram por períodos de paz, seladas por matrimônios entre as dinastias de Ur e elamita. Durante o governo do último rei de Ur, Ibbi-Sin (2028-2004 a.C), vemos uma incapacidade do mesmo de segurar as rebeliões elamitas, permitindo que Kindattu (sexto rei da dinastia Simaški) conquistasse Ur. Para Diakonoff (1985, p. 11) a dinastia Simaški foi por um tempo reconhecida como suseranos nominais, sendo que essa situação durou pelo menos um século já que aparentemente não existia um poder central forte o suficiente no Elam nessa época. 
A última dinastia do Antigo período elamita é a Epartida ou Sukkalmah (1970-1600 a.C). Ao que tudo indica esse foi um período de mais estabilidade política na região, pelo fato do Elam não estar mais sob o controle mesopotâmico. Observa-se também características régias mais peculiares do que anteriormente (como um triunvirato real), já que as fontes são um pouco mais abundantes nessa dinastia, todavia complexas. 
Luca Peyronel (2018, p 203) descreve que nessa época o Elam tinha um quadro político com uma autoridade proeminente conhecida como Sukkalmah, sendo que também podem ter existido outras autoridades menos evidentes, com complexos mecanismos de sucessão que diferiam dos mesopotâmicos, que devem ter se fortalecido dentro de uma confederação que unia territórios ocupados por nômades e tribos assentados, se comprometendo entre formas de soberania e hierarquias políticas.  Sobre o ponto de vista de sucessão. Vallat (1998, p. 304) demonstra que a primogenitura masculina era essencial para ascender ao trono, porém com diferentes graus de legitimidade com a endogamia prevalecendo sobre exogamia. A criança nascida de um rei e uma princesa elamita que fosse estrangeira era legitima, mas a criança gerada da união do rei com sua própria irmã tinha um grau de legitimidade maior. O filho mais velho nascido de uma exogamia deveria ceder seu lugar ao trono a criança nascida da endogamia. O grau mais alto da legitimidade era concedido ao filho nascido da união do rei com sua filha (VALLAT, 1998, p. 304).
O nome Sukkalmah não foi adotado por acaso, já era um título conhecido na Mesopotâmia. Daniel T Potts (2012, p. 43) explica que esse nome pode ser traduzido grosseiramente como vizir ou primeiro ministro, pode ter sido adotado em Susa pelo fato de que no período da III dinastia de Ur as fronteires leste da região eram controladas pelo sukkalmah da cidade-estado de Lagash.  Para Peyronel (2018, p. 203) é complicado a associação do equilíbrio político elamita, mas que provavelmente teve raízes lá no período de Awan, moldando-se durante a pressão militar de Ur III, sendo inicialmente estados subdivididos contendo uma pluralidade de entidades e poderes, mas que desenvolveram uma estrutura unida e estável durante os Epartidas. Vallat (1998, p. 303) considera que nessa longa dinastia houve uma progressiva “semitização” da linhagem real; mesmo com a anexação de Susa para a esfera política do Elam, e sendo essa o maior centro, o processo foi refletido em diferentes esferas. Os elamitas não impuseram sua língua para os susianos, e a maioria dos documentos encontrados nessa região são relacionados a aspectos diários escritos em acadiano.
O período Médio elamita (1500-1100 a.C) pode divergir em sua periodização, não sendo seguida por todos os especialistas, portando é comum encontrar diferenciações como ME I, ME II e ME III (Médio elamita). Vallat (1998, p. 306) fala que esse período foi caracterizado por uma “elamização” de Susa, onde o título sukkalmah foi trocado pelo antigo título de “rei de Ashan e Susa”.
O acadiano permaneceu em uso durante a primeira dinastia dos Kidinuidas (1500-1400 a.C), porém caindo no desuso nas dinastias dos Igihalkidas (1400-1210 a.C) e Šutrukidas (1210-1100 a.C). Behzad Mofidi-Nasrabadi (2018, p. 243) explica que durante meados desse período o Elam se tornou um dos mais importantes poderes políticos da região, sendo esse crescimento espelhado em sua autoconfiança cultural. A expansão do papel político elamita também transformou a estrutura tradicional existente, que era baseado em um sistema tripartido de regentes. A supremacia política do Médio elamita deu a impressão de ter sido concentrada nas mãos de um só rei (NASRABADI, 2018, p. 244).
Talvez a dinastia dos Šutrukidas seja a mais memorável, pelo fato de terem invadido diversas vezes a Babilônia cassita e até colocado um regente no trono. Šutruk-Nahhunte (1185-1155 a.C) ficou marcado pelo saque que praticamente devastou a região. No butim de sua conquista estavam o código de Hamurabi e a estela de Naram-Sin, que foram levados para Susa e oferecidos para as divindades locais, nas quais receberam novas inscrições na língua elamita.
O período Neo-elamita (1100-539 a.C), assim como o ME pode divergir em sua periodização, portanto é comum encontrar subdivido em: NE I, NE II, NE III, sendo que o III algumas vezes é divido em A e B. Elynn Gorris e Yasmina Wicks (2018, p. 249) discorrem sobre o rápido desenvolvimento dessa época do sudoeste iraniano, isso por conta do aumento da diversidade cultural e vitalidade política. Para Vallat (1998, p. 310) nessa época já podemos observar a chegada maciça de iranianos no platô, o que reduziu ainda mais o Elam.
O avanço lento dos medos e persas através do platô, empurrou os elamitas da região de Ashan em direção a Susiana. A região de Ashan gradualmente se tornou a Persía, enquanto Susiana (e somente essa) virou o Elam. Na maioria das fontes desse período, particularmente as mesopotâmicas, Susiana é relacionada como o Elam. Mesmo assim, os soberanos Neo-elamitas continuaram com o título de “rei de Ashan e Susa”, exceto pelos três últimos (VALLAT, 1998, p. 310). 
Potts (2012, p. 45) fala que no Neo-elamita existem poucas fontes, pelo menos até o século VIII a.C, onde apareceram registros Neo-assírios. A história dessa época é complicada, ainda mais pelo fato que haviam governantes do Elam homônimos, alguns sendo lideres faccionais reconhecidos pelos assírios, mas não pelos elamitas. Sargão II, Sennacherib (704-681 a.C), Esarhaddon (680-669 a.C) e Assurbanipal (668-627 a.C) tiveram campanhas vitoriosas contra os elamitas, esses que ajudavam ou abrigavam babilônicos e caldeus inimigos assírios (POTTS, 2012, p.46).
Existem dúvidas sobre em qual circunstância se deu o final do reino elamita, Diakonoff (1985, p. 23-24) acredita que o Elam deve ter reconhecido a supremacia de Cyaxeres rei da Media, tornando-se uma satrapia no reinado de Ciro. Potts (2012, p. 47) chama atenção de como Ciro é descrito nas fontes babilônicas (Kurash), e muitas especialistas consideram que esse teria sido um nome elamita. existindo a hipótese do império criado por Ciro ter sido “elamita” e só se tornado “Aquemênida” com a ascensão de Dario.
Sociedade
Pela escassez das fontes, um panorama da sociedade elamita só pode ser descrito na perspectiva das influências mesopotâmicas desde pelo menos o terceiro milênio. Aparentemente as cidades que ficavam mais próximas da Mesopotâmia absorveram rápido a sua influência, como vimos na adoção do acádio como escrita em determinados períodos.
Durante a dinastia Epartida a população estava, como explica Dianokonoff (1985, p14) fortemente acadianizada; nomes acádios e amoritas eram frequentes. A principal unidade social entre os cidadãos livres de Susa era uma espécie de comunidade ou “irmandade” (em acádio ahhutu), mas nem sempre fortemente relacionadas umas com as outras. A propriedade era de controle patriarcal, e depois da morte a viúva não era vista como uma herdeira, mesmo parte podendo ser doada. A mesma ficava encarregada até os filhos atingirem a maioridade, na qual ficariam em cargo do destino da propriedade.
Pela circunstância do Elam ter ficado na órbita mesopotâmica, podemos observar também sua influência na religião, e muitas divindades como Adad e Shamash tinham uma aceitação pelos elamitas, recebendo templos e outras formas de adoração. Temos os nomes de alguns deuses do panteão local; Pinikir, Nahhunte, Hutran, Humban, Kirmašir, e como explica Vallat (1998, p. 335), essas deidades podem ser interligadas com outros panteões do Oriente Próximo, com uma característica que a religião elamita não era algo homogêneo, sendo que certos deuses e deusas eram ou não adorados ao longo de sua história. Enrique Quintana (2018, p. 729) fala que esse diverso conjunto de divindades era fortemente ligado com seu lugar de origem. Algumas eram representadas iconograficamente; em selos, estelas, relevos em rochas e estátuas. Os deuses eram cultuados em templos ou em santuários ao céu aberto, que devem ter sido usados para peregrinações e como bases festivas anuais relacionadas a divindades especificas.
Referências
Leonardo Candido Batista, Mestre em História Social pela UEL.
CARTER, Elizabeth; STOLPER, Matthew. W. Elam: Survey of Political History and Archeology. California. California University Press, 1984.
DAHL, Jacob. L. The Proto-Elamite Writing System. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
DESSET, François. Linear Elamite Writing. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
DIAKONOFF. I.M. Elam. In Ilya Gershevitch (Org). The Cambridge History of Iran vol II. Cambridge. Cambridge University Press, 1985.
ENGLUND, R.K. Proto-Elamite. Disponível em: Encyclopaedia Iranica, VIII/3, pp. 325-330. http://www.iranicaonline.org/articles/elam-iii. Acesso em: 04 de Maio de 2018.
GORRIS, Elynn; WICKS, Yasmina. The Last Centuries of Elam: The Neo-Elamite Period. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
NASRABADI, Behzad. Mofidi. Elam in the Middle Elamite Period. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
PEYRONEL, Luca. The Old Elamite Period. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
POTTS, T. Daniel. The Elamites. In: Touraj Daryaee (Org). The Oxford Handbook of Iranian History. Oxford: Oxford University Press, 2012.
QUINTANA, Enrique. Elamite Religion and Ritual. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
SALVANI, Mirjo. Linear Elamite. Disponível em: Encyclopaedia Iranica, VIII/3, pp. 330-332. http://www.iranicaonline.org/articles/elam-iv. Acesso em: 07 de Maio de 2018.
STEINKELLER, Piotr. The Birth of Elam in History. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
TAVENIER, Jan. The Elamite Language. In ÁLVAREZ-MON, Javier; BASELLO, Gian Pietro and WICKS, Yasmina (Orgs). The Elamite World. New York. Routledge, 2018.
VALLAT, François. Elamite Religion. Disponível em: Encyclopaedia Iranica, VIII/3, pp. 335-336 and VIII/4, p. 342. http://www.iranicaonline.org/articles/elam-vi. Acesso em: 28 de Junho de 2018.
___________. The History of Elam. Disponível em: Encyclopaedia Iranica, VIII/3, pp. 301-313.  http://www.iranicaonline.org/articles/elam-i. Acesso em: 08 de Maio de 2018.


6 comentários:

  1. Olá Leonardo,
    Agradeço pelo texto, vejo que mesmo com poucos materiais conseguiu elucidar a história deste povo.
    Nesta mesma temática, gostaria de perguntar se há pesquisas em português ou mesmo publicações sobre Os Elamitas em português? E como o professor de ensino básico ou médio poderia trazer este tema para aulas para contribuir com o currículo escolar dos alunos e até mesmo para despertar o interesse em futuros trabalhos sobre este povo?
    Atenciosamente,
    Debora Cirqueira Ferreira

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  2. Debora, fico contente que tenha dedicado um tempo para ler o artigo e gostado! Infelizmente não existem pesquisas em língua portuguesa sobre o Elam, e os poucos manuais existentes dedicam somente menções ou algumas páginas sem muitas problematizações sobre o assunto, até mesmo por serem livros antigos que colocam a perspectivava de "civilizações" e não fazem uma análise mais dinâmica sobre o Oriente Próximo. Creio que seja um tema delicado para trabalhar em sala de aula, devido à dificuldade dos alunos em compreender a antiguidade, e os materiais didáticos contribuírem com essa ideia de sociedades dispersas, devido à mera cópia dos poucos livros disponíveis em português, que não acompanham a produção historiográfica produzida onde essas pesquisas estão mais avançadas.

    Atenciosamente, Leonardo Candido Batista.

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  3. Olá Leonardo. Parabéns pelo texto e esse é um tema ainda inexplorado pela nossa historiografia com muito pouco material. Esses é um dos poucos trabalhos que conheço e muito elucidativo. Parabéns. Agora podemos dizer que durante algum tempo toda a mesopotâmia caiu sob o domínio dos elamitas? Grato Marlon Barcelos Ferreira

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    1. Marlon, fico grato pela leitura desde já! Devemos tomar cuidado com as interpretações das fontes nesse período, pelo fato de uma esmagadora parte serem oriundas do mundo mesopotâmico, portanto com alguns conteúdos podendo estar enviesados. Todavia podemos dizer que os elamitas revidaram ataques contra a Mesopotâmia. No artigo eu citei dois exemplos; quando o último rei da III dinastia de Ur não conseguiu conter rebeliões nas cidades do Elam, e outro com Šutruk-Nahhunte saqueando Babel e levando monumentos e estátuas para Susa, como era de práxis no Oriente Próximo quando haviam conquistas de tal porte. É propriamente demasiado chamar essas invasões de “domínio”, sendo que o Elam teve uma política muito instável, e essas vitórias se deram em circunstâncias de fraqueza e mudanças internas na Mesopotâmia.

      Atenciosamente, Leonardo Candido Batista.

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  4. BOA TARDE LEONARDO.
    Acho bem significante teu texto e de um esforço primordial em tentar reescrever a história dos Elamitas. As fontes ainda que que poucas mais apresentam um perfil sobre esse povo de mais de 4 mil anos, que é interessante sua história e sua influencia na Mesopotâmia. Gostaria de saber se existem ainda pesquisas arqueológicas sobre a região de onde viveu esse povo? Existe novas bibliografias que atraem novos campos de pesquisas sobre essa civilização?
    OBRIGADO
    ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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    1. Muito Obrigado, Elois! Acho que esse simpósio eletrônico é um espaço muito chamativo e adequado para esses trabalhos que muitas vezes são obscuros para a historiografia brasileira. A pesquisa arqueológica é essencial para o estudo dos elamitas, como vimos no artigo, as fontes são muito dispersas sobre o período elamita no platô iraniano. Sendo assim, a arqueologia tem um espaço próprio para o estudo desses povos, partindo de um ponto de vista que se afasta dos estudos relacionados aos persas, colocando o próprio Elam como uma perspectiva essencial para a história da região. Existe um número satisfatório de referências sobre o assunto, um deles foi utilizado para a elaboração do trabalho “The Elamite World”, que é uma coletânea de diversos artigos escritos pelos mais renomados especialistas na área, sendo a data de sua publicação bem recente (2018).

      Atenciosamente, Leonardo Candido Batista.

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