OS ELAMITAS
Leonardo Batista
Quem foram os elamitas?
O estudo sobre os elamitas é muito mais
limitado do que outras regiões do antigo Oriente Próximo. Portanto, podemos
apenas esboçar as circunstâncias de sua história, dependendo quase
exclusivamente de fontes mesopotâmicas, tendo assim a perspectiva dessa sociedade.
O Elam foi importante para o funcionamento das estruturas desse período da
antiguidade, pois não podemos enxergar essa temporalidade como “civilizações”
ilhadas em seus mundos estáticos como é apresentado em muitos livros e manuais
acadêmicos. Ao contrário, devemos entender a dinâmica dessas sociedades em um
funcionamento conjunto, onde existiam trocas culturais que com o tempo
alcançaram outros nichos e áreas do antigo Oriente, preenchendo e expandido a
cultura sofisticada que estava imbuída em centros do sul da Mesopotâmia, e aos
poucos atingindo outros polos.
É complicado estipular que tipo de
organização política existiu no Elam. Era algo como entidades políticas e
culturais vagamente unidas, podendo ser considerados grupos que detinham uma
característica de cidades-estados ao sudoeste do atual Irã (principalmente na
região de Susa) da era Bronze até pelo menos o início do período islâmico, onde
foram adversários ao longo de sua história dos sumérios, acádios, babilônicos e
assírios. Ainda mais difícil é descrever como era a estabilidade política
elamita durante sua existência, é o que Daniel T. Potts (2012, p. 37) fala
sobre partes dessa história, algumas vezes sob o controle da Mesopotâmia, e
outras com uma dinastia que florescia independente no que são hoje as regiões
iranianas de Fars, Cuzistão ou Luristão. A escassez de fontes e a difusão da
língua mesopotâmica semita na região oeste elamita cria uma dependência de
textos estrangeiros que são mais abundantes, ao passo de unir a política, a sociedade
e a história cultural dessa importante região.
Para Diakonoff (1985, p.5), a maioria
dessas cidades-estados são apenas conhecidas pelos nomes, sendo que hipóteses
sobre suas localizações foram apresentadas, algumas vagas e outras ligadas as
nomenclaturas antigas aos atuais sítios arqueológicos, embora a existência de
nenhuma tenha sido provada. Partindo
desse ponto de vista, o Elam pode ter sido uma cidade-estado separada de Susa
situada talvez acima das colinas, sendo que mais tarde o termo foi difundido
para a conotação geral da região como um todo, incluindo também as terras mais
baixas (DIAKONOFF, 1985, p.5).
Matthew W. Stolper (1984, p. 3) comenta
que por causa da maioria das fontes relacionadas ao Elam serem originárias dos
antigos estados vizinhos da Mesopotâmia, essas conceituam a região com um
parecer de continuo histórico, porém camufladas com uma retórica tendenciosa,
enfatizando contatos hostis e rendendo poucas informações precisas sobre o
desenvolvimento além do alcance político e influência mesopotâmica. Essa
perspectiva enviesada só é balanceada por textos próprios do Elam. Parte
majoritária das fontes internas derivam do Cuzistão, sendo volumosa em Susa.
Elas documentam a importância dessa região na história elamita, mas também indicam
um crucial desenvolvimento político ao norte e ao leste da susiana, as margens
expostas das conquistas mesopotâmicas. Textos advindos de outros sítios
continuam sendo raros. Portanto, apesar das fontes internas avaliarem ou
complementarem o registro mesopotâmico, elas mostram a história elamita de uma
maneira monocêntrica (da perspectiva da região oeste), na qual pode distorcer
algumas circunstâncias (STOLPER, 1984, p.4).
Figura 1 - Mapa conceitual do Elam 2000
a.C
O nome Elam, assim como outros nomes
dados a povos da antiguidade pela historiografia ocidental foi cunhado da
Bíblia. Piotr Steinkeller (2018, p. 177) explica que o termo ‘êlām é uma
tipologia do hebreu herdado fundamentalmente da palavra suméria Elam (em
acadiano Elamtu), sendo um exônimo usado pelos babilônicos para designar os
habitantes das planícies iranianas e outros grupos étnicos que ali viviam.
Entre as designações nativas do platô iranino, o termo mais antigo documentado
desde o período sargônico é Awan. Até onde pode ser determinado Awan denota o
sudeste do Cuzistão e as adjacentes das planícies do Irã, estendendo-se mais
para o leste até Ashan e Marhashi. Não sabemos se Awan também apresentava
conotações étnicas e linguísticas. Outra palavra nativa para essa região é
Hatamti ou Haltamti, na qual é claramente documentada somente durante o antigo
período babilônico (STEINKELLER, 2018, p. 178).
Língua e sistema de escrita
A língua elamita e sua tradução em
partes ainda é envolta de mistérios, sendo uma tarefa hercúlea para os
filólogos entenderem seu significado. Jan Tavenier (2018, p. 416) argumenta que
a língua elamita foi falada no sudoeste do Iran entre pelo menos os séculos
XXIII e IV a.C, período esses que são atestadas epigraficamentes. A língua
elamita é considera isolada, sendo o porquê dessa circunstância parcialmente
desconhecido. Pode ter existido uma ligação com as línguas dravídicas, havendo
uma separação entre essas matrizes linguísticas no quinto milênio a.C. Porém o
não completo entendimento do elamita dificulta o trabalho dos especialistas
para tal reconstrução.
A composição étnica do Elam é um total
quebra-cabeça, qualquer conjectura não passará de mera suposição sobre os
grupos que ali coexistiram. Diakonoff (1985, p. 2) demonstra um panorama para
essa complexibilidade do quadro étnico elamita, e pondera que as tribos das
planícies iranianas pertenciam a família linguística do nordeste do Cáucaso.
Entre noroeste do platô, e ao sudeste proto-dravídico, podem ter existido povos
que falavam línguas arcaicas, aparentemente desconexas das famílias
linguísticas existentes, como o caso do sumério na Mesopotâmia.
A arqueologia é de grande ajuda para
trazer o número relativo de vestígios para a luz dessa área tão delicada da
antiguidade, sendo sua relação bem pertinente para a amplitude do conhecimento
do platô oeste iraniano do quarto milênio a.C. O que faz a história do Elam
tornar-se ainda mais complexa é a falta de comparação das fontes, limitadas
pela insuficiente tradução. É importante o cuidado com o conteúdo enviesado das
referências dos arredores mesopotâmicos. A maioria dos registros encontrados
são de aspectos baseados na economia local. Pode-se classificar essas fontes
textuais em duas etapas: O proto-elamita e o elamita linear.
O proto-elamita segundo R.K Englund
(1998, p. 325) é um termo utilizado para a terminologia escrita que existiu no
platô da susiana e nas planícies iranianas por volta de 3050-2900 a.C. Mais ou
menos correspondendo a Jamdat Nasr/ Uruk III, ao longo do Período dinástico
recente I na Mesopotâmia. Os tabletes do proto-elamita são os primeiros
documentos escritos de forma estruturada na região; os inscritos consistem em
signos numéricos e ideográficos. Não se sabe ao certo se existiu uma língua
precursora, e essas inscrições foram parcialmente decifradas. Além do mais,
conclusões sobre o conteúdo dos textos proto-elamitas podem ser aproximadas de
analises contextuais e de similaridades formais dos tabletes do
proto-cuneiforme da Mesopotâmia. A estrutura dos documentos publicados possui
contas e o uso de sinais numéricos e outros para objetos em escrituração podem
ser de certa forma esclarecidas (ENGLUND, 1998, p. 325)
Figura 2 – Proto-Elamita
O conteúdo desses documentos é de
caráter administrativo, centrados na produção e abastecimento de alimentos para
o cotidiano. Jacob L. Dahl (2018, p. 386) comenta que os textos relacionados a
produção de comida incluíam possivelmente escritos de semeadura e colheita,
provisões para camponeses e pastoreio de ovelhas e cabras. Os relacionados ao armazenamento
de alimentos não direcionavam detalhadamente o conteúdo do mesmo (celeiros e
armazéns), mas incluíam informações importantes para o planejamento da
estocagem e de como manter os registros.
A tradução do proto-elamita hoje está
quase completa, mas como explica Englund (1998, p. 326) essa foi dificultada
pela falta de ferramentas filológicas necessárias. Sendo que o primeiro passo
foi uma lista de sinais confiáveis e limpas de variantes redundantes para
oferecer uma ideia aproximada do número e frequência dos sinais no repertório
do escriba, também fornecendo um instrumento de transcrição para a análise de
combinação e contextos simples. Dahl (2018, p. 387) lembra que simplicidade do
proto-elamita pode ser explicada pelo fato de essa ser uma escrita não
completamente desenvolvida, mas uma espécie de protótipo criada para propósitos
administrativos.
O elamita linear é uma escrita ainda
mais obscura do que a anterior, isso pelo fato de sua tradução ainda não
existir, o que torna praticamente impossível qualquer tipo de interpretação do
conteúdo dessas fontes. Mirjo Salvini (1998, p. 330) descreve essa forma como
sendo o sistema usado no final do terceiro milênio a.C por Puzur-Inšušinak (último rei dos doze
pertencentes da dinastia de Awan). Ele governou por volta de 2150 a.C e foi
contemporâneo de Ur-Nammur, primeiro soberano da III dinastia de Ur e Gudea de
Lagash.
Figura – 3
Elamita Linear
Esse
sistema pode ter sido derivado do proto-elamita, no qual possui alguns sinais
em comum. Porém para François Desset (2018, p. 402), a hipótese de uma conexão
genética com o proto-elamita, (que desapareceu por volta de 2800 a.C) está
longe de ser provada. Sendo que essa só seria aceita se formatos similares de
sinais entre as duas escritas tivessem o mesmo logograma, ou o valor fonético.
Como essa escrita continua indecifrável, uma cautelosa aproximação sugere que o
elamita linear é um sistema ad hoc da segunda metade do terceiro milênio, sem
nenhum ancestral ou herdeiro (DESSET, 2018, p. 402). Os documentos conhecidos por utilizar esse
tipo de escrita são cartas, vasos e selos, que estão amostra nos museus do
Louvre e de Teerã.
História
política
Como já
citadas, as dificuldades para montar uma perspectiva histórica elamita são
muito limitadas, necessitando apoio incondicional da arqueologia. Não obstante,
ainda podemos ter um panorama da história política do Elam, embora com algumas
lacunas, observamos as interações sempre existentes com outras localidades do
Oriente Próximo. Há uma periodização que divide a história desses povos (assim
como em outras sociedades da antiguidade), sendo separada em três períodos:
Antigo período elamita, Médio elamita e Neo-elamita.
Começamos
a ver os primeiros soberanos do Elam pelo documento conhecido como lista de
reis sumérios, onde aparentemente Enmebaragesi de Kish ataca a região, mas como
bem lembra Potts (2012, p. 40), os especialistas atuais olham com ressalva a
existência do suposto rei de Kish, assim como a historicidade de uma parte dos
reis pré-acadianos citados nessa lista. O Antigo elamita ocorreu por volta de
2400-1600 a.C, um período relativamente conturbado, onde houve ora uma
dependência elamita sob o poder mesopotâmico, ora uma certa independência.
Acredita-se
que a primeira dinastia elamita foi a de Awan (2400- 2100 a.C), sendo
parcialmente contemporânea de Sargão (2340-2284 a.C). Puzur-Inšušinak é o soberano
mais conhecido dessa dinastia, e foi também o último. Diakonoff (1985, p. 10)
fala que nas inscrições acadianas esse rei tenta imitar títulos reais
mesopotâmicos como o “rei dos quatro cantos da terra”, conquistando cerca de
sessenta regiões em diferentes lugares. Potts (2012, p. 41) descreve mais
títulos para a representação do primeiro soberano elamita, como por
exemplo, ensí de Susa GÌR.NÍTA
(vassalo?, governador militar?) do Elam, e rei (lugal) de Awan, sendo tentador
pensar que esses diferentes títulos adotados
por Puzur-Inšušinak de fato replicava sua gradual ascensão de governador
de Susa no período acadiano tardio para rei do Elam. François Vallat (1998, p. 302) considera que
alguns desses lugares devem ter sido Susa e Ashan, em uma conduta para iniciar
uma união nesses estados dispersos que foi o Elam, subjugando também o rei de
Simaški. Seus sucessores foram incapazes de manter Susa na esfera elamita.
Puzur-Inšušinak deixou vários documentos com seu nome em Susa, sendo alguns
escritos em acadiano e outros em elamita linear.
A dinastia
Simaški (2100- 1970 a.C)
aparentemente chegou ao poder após a de Awan, embora não haja informações de
como essa sucessão foi realizada. Acredita-se que existiu pelo menos doze reis
nessa dinastia segunda a lista real de Susa (nove atestados em outras fontes) e
foram contemporâneos da III dinastia de Ur (2112-2004 a.C). Vallat (1998, p.
302) comenta que a primeira fase desse período foi caracterizada por incessantes
ataques mesopotâmicos no platô iraniano. Essas campanhas também alternaram por
períodos de paz, seladas por matrimônios entre as dinastias de Ur e elamita.
Durante o governo do último rei de Ur, Ibbi-Sin (2028-2004 a.C), vemos uma
incapacidade do mesmo de segurar as rebeliões elamitas, permitindo que Kindattu
(sexto rei da dinastia Simaški) conquistasse Ur. Para Diakonoff (1985, p. 11) a
dinastia Simaški foi por um tempo reconhecida como suseranos nominais, sendo
que essa situação durou pelo menos um século já que aparentemente não existia
um poder central forte o suficiente no Elam nessa época.
A última dinastia do Antigo período elamita é a
Epartida ou Sukkalmah (1970-1600 a.C). Ao que tudo indica esse foi um período
de mais estabilidade política na região, pelo fato do Elam não estar mais sob o
controle mesopotâmico. Observa-se também características régias mais peculiares
do que anteriormente (como um triunvirato real), já que as fontes são um pouco
mais abundantes nessa dinastia, todavia complexas.
Luca Peyronel (2018, p 203) descreve que nessa
época o Elam tinha um quadro político com uma autoridade proeminente conhecida
como Sukkalmah, sendo que também podem ter existido outras autoridades menos
evidentes, com complexos mecanismos de sucessão que diferiam dos mesopotâmicos,
que devem ter se fortalecido dentro de uma confederação que unia territórios
ocupados por nômades e tribos assentados, se comprometendo entre formas de
soberania e hierarquias políticas. Sobre
o ponto de vista de sucessão. Vallat (1998, p. 304) demonstra que a
primogenitura masculina era essencial para ascender ao trono, porém com
diferentes graus de legitimidade com a endogamia prevalecendo sobre exogamia. A
criança nascida de um rei e uma princesa elamita que fosse estrangeira era
legitima, mas a criança gerada da união do rei com sua própria irmã tinha um
grau de legitimidade maior. O filho mais velho nascido de uma exogamia deveria
ceder seu lugar ao trono a criança nascida da endogamia. O grau mais alto da
legitimidade era concedido ao filho nascido da união do rei com sua filha
(VALLAT, 1998, p. 304).
O nome Sukkalmah não foi adotado por acaso, já
era um título conhecido na Mesopotâmia. Daniel T Potts (2012, p. 43) explica
que esse nome pode ser traduzido grosseiramente como vizir ou primeiro
ministro, pode ter sido adotado em Susa pelo fato de que no período da III
dinastia de Ur as fronteires leste da região eram controladas pelo sukkalmah da
cidade-estado de Lagash. Para Peyronel
(2018, p. 203) é complicado a associação do equilíbrio político elamita, mas
que provavelmente teve raízes lá no período de Awan, moldando-se durante a
pressão militar de Ur III, sendo inicialmente estados subdivididos contendo uma
pluralidade de entidades e poderes, mas que desenvolveram uma estrutura unida e
estável durante os Epartidas. Vallat (1998, p. 303) considera que nessa longa
dinastia houve uma progressiva “semitização” da linhagem real; mesmo com a
anexação de Susa para a esfera política do Elam, e sendo essa o maior centro, o
processo foi refletido em diferentes esferas. Os elamitas não impuseram sua
língua para os susianos, e a maioria dos documentos encontrados nessa região
são relacionados a aspectos diários escritos em acadiano.
O período Médio elamita (1500-1100 a.C) pode
divergir em sua periodização, não sendo seguida por todos os especialistas,
portando é comum encontrar diferenciações como ME I, ME II e ME III (Médio
elamita). Vallat (1998, p. 306) fala que esse período foi caracterizado por uma
“elamização” de Susa, onde o título sukkalmah foi trocado pelo antigo título de
“rei de Ashan e Susa”.
O acadiano permaneceu em uso durante a primeira
dinastia dos Kidinuidas (1500-1400 a.C), porém caindo no desuso nas dinastias dos Igihalkidas (1400-1210 a.C) e
Šutrukidas (1210-1100 a.C). Behzad Mofidi-Nasrabadi (2018, p. 243) explica que
durante meados desse período o Elam se tornou um dos mais importantes poderes
políticos da região, sendo esse crescimento espelhado em sua autoconfiança
cultural. A expansão do papel político elamita também transformou a estrutura
tradicional existente, que era baseado em um sistema tripartido de regentes. A
supremacia política do Médio elamita deu a impressão de ter sido concentrada
nas mãos de um só rei (NASRABADI, 2018, p. 244).
Talvez a
dinastia dos Šutrukidas seja a mais memorável, pelo fato de terem invadido
diversas vezes a Babilônia cassita e até colocado um regente no trono.
Šutruk-Nahhunte (1185-1155 a.C) ficou marcado pelo saque que praticamente
devastou a região. No butim de sua conquista estavam o código de Hamurabi e a
estela de Naram-Sin, que foram levados para Susa e oferecidos para as
divindades locais, nas quais receberam novas inscrições na língua elamita.
O período
Neo-elamita (1100-539 a.C), assim como o ME pode divergir em sua periodização,
portanto é comum encontrar subdivido em: NE I, NE II, NE III, sendo que o III
algumas vezes é divido em A e B. Elynn Gorris e Yasmina Wicks (2018, p. 249)
discorrem sobre o rápido desenvolvimento dessa época do sudoeste iraniano, isso
por conta do aumento da diversidade cultural e vitalidade política. Para Vallat
(1998, p. 310) nessa época já podemos observar a chegada maciça de iranianos no
platô, o que reduziu ainda mais o Elam.
O avanço
lento dos medos e persas através do platô, empurrou os elamitas da região de
Ashan em direção a Susiana. A região de Ashan gradualmente se tornou a Persía,
enquanto Susiana (e somente essa) virou o Elam. Na maioria das fontes desse
período, particularmente as mesopotâmicas, Susiana é relacionada como o Elam.
Mesmo assim, os soberanos Neo-elamitas continuaram com o título de “rei de
Ashan e Susa”, exceto pelos três últimos (VALLAT, 1998, p. 310).
Potts
(2012, p. 45) fala que no Neo-elamita existem poucas fontes, pelo menos até o
século VIII a.C, onde apareceram registros Neo-assírios. A história dessa época
é complicada, ainda mais pelo fato que haviam governantes do Elam homônimos,
alguns sendo lideres faccionais reconhecidos pelos assírios, mas não pelos
elamitas. Sargão II, Sennacherib (704-681 a.C), Esarhaddon (680-669 a.C) e
Assurbanipal (668-627 a.C) tiveram campanhas vitoriosas contra os elamitas,
esses que ajudavam ou abrigavam babilônicos e caldeus inimigos assírios (POTTS,
2012, p.46).
Existem
dúvidas sobre em qual circunstância se deu o final do reino elamita, Diakonoff
(1985, p. 23-24) acredita que o Elam deve ter reconhecido a supremacia de
Cyaxeres rei da Media, tornando-se uma satrapia no reinado de Ciro. Potts
(2012, p. 47) chama atenção de como Ciro é descrito nas fontes babilônicas
(Kurash), e muitas especialistas consideram que esse teria sido um nome
elamita. existindo a hipótese do império criado por Ciro ter sido “elamita” e
só se tornado “Aquemênida” com a ascensão de Dario.
Sociedade
Pela
escassez das fontes, um panorama da sociedade elamita só pode ser descrito na
perspectiva das influências mesopotâmicas desde pelo menos o terceiro milênio.
Aparentemente as cidades que ficavam mais próximas da Mesopotâmia absorveram
rápido a sua influência, como vimos na adoção do acádio como escrita em
determinados períodos.
Durante a
dinastia Epartida a população estava, como explica Dianokonoff (1985, p14)
fortemente acadianizada; nomes acádios e amoritas eram frequentes. A principal
unidade social entre os cidadãos livres de Susa era uma espécie de comunidade
ou “irmandade” (em acádio ahhutu), mas nem sempre fortemente relacionadas umas
com as outras. A propriedade era de controle patriarcal, e depois da morte a
viúva não era vista como uma herdeira, mesmo parte podendo ser doada. A mesma
ficava encarregada até os filhos atingirem a maioridade, na qual ficariam em
cargo do destino da propriedade.
Pela
circunstância do Elam ter ficado na órbita mesopotâmica, podemos observar
também sua influência na religião, e muitas divindades como Adad e Shamash
tinham uma aceitação pelos elamitas, recebendo templos e outras formas de adoração.
Temos os nomes de alguns deuses do panteão local; Pinikir, Nahhunte, Hutran,
Humban, Kirmašir, e como explica Vallat (1998, p. 335), essas deidades podem
ser interligadas com outros panteões do Oriente Próximo, com uma característica
que a religião elamita não era algo homogêneo, sendo que certos deuses e deusas
eram ou não adorados ao longo de sua história. Enrique Quintana (2018, p. 729)
fala que esse diverso conjunto de divindades era fortemente ligado com seu
lugar de origem. Algumas eram representadas iconograficamente; em selos,
estelas, relevos em rochas e estátuas. Os deuses eram cultuados em templos ou
em santuários ao céu aberto, que devem ter sido usados para peregrinações e
como bases festivas anuais relacionadas a divindades especificas.
Referências
Leonardo
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The History of Elam. Disponível
em: Encyclopaedia Iranica, VIII/3,
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Olá Leonardo,
ResponderExcluirAgradeço pelo texto, vejo que mesmo com poucos materiais conseguiu elucidar a história deste povo.
Nesta mesma temática, gostaria de perguntar se há pesquisas em português ou mesmo publicações sobre Os Elamitas em português? E como o professor de ensino básico ou médio poderia trazer este tema para aulas para contribuir com o currículo escolar dos alunos e até mesmo para despertar o interesse em futuros trabalhos sobre este povo?
Atenciosamente,
Debora Cirqueira Ferreira
Debora, fico contente que tenha dedicado um tempo para ler o artigo e gostado! Infelizmente não existem pesquisas em língua portuguesa sobre o Elam, e os poucos manuais existentes dedicam somente menções ou algumas páginas sem muitas problematizações sobre o assunto, até mesmo por serem livros antigos que colocam a perspectivava de "civilizações" e não fazem uma análise mais dinâmica sobre o Oriente Próximo. Creio que seja um tema delicado para trabalhar em sala de aula, devido à dificuldade dos alunos em compreender a antiguidade, e os materiais didáticos contribuírem com essa ideia de sociedades dispersas, devido à mera cópia dos poucos livros disponíveis em português, que não acompanham a produção historiográfica produzida onde essas pesquisas estão mais avançadas.
ResponderExcluirAtenciosamente, Leonardo Candido Batista.
Olá Leonardo. Parabéns pelo texto e esse é um tema ainda inexplorado pela nossa historiografia com muito pouco material. Esses é um dos poucos trabalhos que conheço e muito elucidativo. Parabéns. Agora podemos dizer que durante algum tempo toda a mesopotâmia caiu sob o domínio dos elamitas? Grato Marlon Barcelos Ferreira
ResponderExcluirMarlon, fico grato pela leitura desde já! Devemos tomar cuidado com as interpretações das fontes nesse período, pelo fato de uma esmagadora parte serem oriundas do mundo mesopotâmico, portanto com alguns conteúdos podendo estar enviesados. Todavia podemos dizer que os elamitas revidaram ataques contra a Mesopotâmia. No artigo eu citei dois exemplos; quando o último rei da III dinastia de Ur não conseguiu conter rebeliões nas cidades do Elam, e outro com Šutruk-Nahhunte saqueando Babel e levando monumentos e estátuas para Susa, como era de práxis no Oriente Próximo quando haviam conquistas de tal porte. É propriamente demasiado chamar essas invasões de “domínio”, sendo que o Elam teve uma política muito instável, e essas vitórias se deram em circunstâncias de fraqueza e mudanças internas na Mesopotâmia.
ExcluirAtenciosamente, Leonardo Candido Batista.
BOA TARDE LEONARDO.
ResponderExcluirAcho bem significante teu texto e de um esforço primordial em tentar reescrever a história dos Elamitas. As fontes ainda que que poucas mais apresentam um perfil sobre esse povo de mais de 4 mil anos, que é interessante sua história e sua influencia na Mesopotâmia. Gostaria de saber se existem ainda pesquisas arqueológicas sobre a região de onde viveu esse povo? Existe novas bibliografias que atraem novos campos de pesquisas sobre essa civilização?
OBRIGADO
ELOIS ALEXANDRE DE PAULA
Muito Obrigado, Elois! Acho que esse simpósio eletrônico é um espaço muito chamativo e adequado para esses trabalhos que muitas vezes são obscuros para a historiografia brasileira. A pesquisa arqueológica é essencial para o estudo dos elamitas, como vimos no artigo, as fontes são muito dispersas sobre o período elamita no platô iraniano. Sendo assim, a arqueologia tem um espaço próprio para o estudo desses povos, partindo de um ponto de vista que se afasta dos estudos relacionados aos persas, colocando o próprio Elam como uma perspectiva essencial para a história da região. Existe um número satisfatório de referências sobre o assunto, um deles foi utilizado para a elaboração do trabalho “The Elamite World”, que é uma coletânea de diversos artigos escritos pelos mais renomados especialistas na área, sendo a data de sua publicação bem recente (2018).
ExcluirAtenciosamente, Leonardo Candido Batista.