Marcelo Ferraz


CINEMA E ORIENTE PRÓXIMO: O MONOTEÍSMO A ATON DURANTE O REINADO DE AMENHOTEP IV EM O EGÍPCIO (1954)
Marcelo Gonçalves Ferraz

Introdução
O Egito Antigo é, antes de mais nada, fonte de mistério e fantasia para o mundo ocidental. Muito desse fascínio é fruto das representações cinematográficas hollywoodianas produzidas em meados do século passado. Segundo Cardoso (1992, p. 7), o Egito faraônico representa “[...] a mais longa experiência humana documentada de continuidade política e cultural”. Além disso, o autor chama a atenção para o fato de que, apesar de a história do Egito repousar em uma linearidade que superou três milênios, houve uma continuidade de vários padrões culturais egípcios. Essa continuidade, somada à nostalgia exercida por certos elementos “[...] de caráter divino e [...] religião funerária tão elaborada [...]” (CARDOSO, 1992, p. 8), podem ter funcionado como elementos de atração entre a sociedade ocidental e a história do Egito antigo.
De acordo com Desplancques (2009), o Egito se encontra em uma área geográfica de características particulares: uma faixa de terra longa que se alarga na altura do Mediterrâneo. Para a população do Egito antigo, aquela faixa de terra se dividia em Alto e Baixo Egito. A autora afirma que, mesmo após a unificação das duas regiões, os egípcios continuaram considerando a dualidade de seu território, observando-o como um duplo reino. Essa dualidade também era observada nas características distintas das terras que formavam a área fértil (a terra negra, “kemet”) e área desértica (a terra vermelha, “desheret”). A unificação do Egito, citada por Desplancques (2009), foi retratada na Paleta de Narmer – produzida por volta de 3100 a.C. – e é comumente apresentada como “o começo da ‘civilização’ egípcia” (DOBERSTEIN, 2010, p. 8).
Apesar de uma miríade de características políticas, econômicas e sociais observadas durante as várias dinastias faraônicas do antigo Egito, um dos temas que mais atrai a atenção da sociedade ocidental sobre a sua história refere-se ao misticismo e à religiosidade daquela civilização. Seus deuses, suas múmias e seus mistérios tem povoado o imaginário de grande parcela da população do mundo ocidental.
A sociedade do Egito Antigo era uma sociedade carregada de elementos religiosos, que responsabilizava a religião como a origem de seus sucessos e fracassos. Segundo Sales (1999, p. 25) “Os deuses eram fonte de prosperidade e miséria”. Nessa sociedade, os deuses originalmente apresentavam formas animais, sendo progressivamente substituídos por formas humanas com cabeça de animal. O povoamento de criaturas híbridas – com cabeças de animais e corpos humanos – no imaginário da maioria das pessoas, pode ser explicada como uma “complexa rede de divindades” inserida em uma concepção do divino “altamente desenvolvida” (SILVERMAN, 2002, p. 21).
Esses fatores aqui expostos são de grande importância para que possamos compreender como o cinema norte-americano, na década de 1950, apreendeu determinadas características sobre o Egito Antigo e as transformou em informações a serem propagadas sobre aquela sociedade. Muitas dessas informações, diga-se de passagem, distorcidas por um prisma que buscava alcançar determinada meta financeira e/ou ideológica. Não nos esqueçamos que qualquer obra cinematográfica é realizada como um produto de consumo ou de propaganda. O que nos leva a questionar a leitura realizada por essas obras sobre uma cultura tão distante no tempo e tão complexa como a cultura do Egito antigo.
O Egito antigo em produções hollywoodianas dos anos 1950
O cinema acaba tornando-se instrumento valioso no processo ensino-aprendizagem de história, uma vez que temos a oportunidade de discutir diversas temáticas. Não seria diferente ao questionarmos o cinema como ferramenta de pesquisa histórica sobre o Egito antigo, ao lembrarmos que cada obra humana é um produto de seu próprio tempo.
Segundo Ferro (2010, p. 19), “[...] toda sociedade recebe as imagens em função de sua própria cultura”. Poderíamos acrescentar que cada sociedade produz as imagens também em função de sua própria cultura e da sua capacidade tecnológica para tal. Dessa forma, não há como negar o fato de o cinema agir como um grande fomentador dessa cultura, criando conceitos e preconceitos na mentalidade de seus espectadores, proporcionando saberes.
Corroborando com esse fato, Duarte (2009, p. 17) enfatiza que “Muito da percepção que temos da história da humanidade talvez esteja irremediavelmente marcada pelo contato que temos / tivemos com as imagens cinematográficas”. De fato, muito do imaginário ocidental sobre a cultura egípcia foi criado pelo cinema. Ao perguntarmos aos nossos alunos sobre o que lembram do Egito não faltarão alusões às pirâmides, múmias e deuses com cabeças de animais.
Para Cardoso (1992, p. 7), “Nenhuma outra cultura da Antiguidade inspirou a elaboração de tantos livros de divulgação destinados ao grande público”. Provavelmente nem tantos filmes. Entretanto, precisamos lembrar que o mundo que vemos no cinema “[...] não é um mundo real [...]” (ROSENSTONE, 2010, p. 14). Por outro lado, “[...] o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História” (FERRO, 2010, p. 33).
Segundo Mascarello (2006), o cinema produzido por Hollywood na década de 1950 está inserido em um período de grande instabilidade para o mercado cinematográfico norte-americano, situado entre o pós-guerra e o surgimento do “New Movie”. Segundo o autor, a era clássica de Hollywwod ficou restrita às décadas de 1920, 1930 e princípio de 1940, antes da entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial. O “New Movie” seria representado pelo surgimento dos filmes “blockbusters” na década de 1970.
Nos anos 1950, o ambiente do pós-guerra gerou novas dúvidas e anseios para um público que desejava ver essas temáticas também representadas nas telas dos cinemas. Segundo Sabadin (2018, p. 134), a geração do pós-guerra desejava “[...] temas mais reais e instigantes [...]”, enquanto os produtores cinematográficos continuavam insistindo nas receitas utilizadas nos filmes dos anos 1930. Com isso, foi observado uma queda crescente no volume de ingressos vendidos a partir de 1947. Some-se a isso a presença cada vez mais maciça da televisão nos lares norte-americanos (de 0,4% em 1948 para 55,7% em 1957).
Dessa forma, a partir do final da década de 1940 e por toda a década de 1950, os estúdios cinematográficos investiram pesadamente no gênero épico, sobretudo em temáticas bíblicas. São desse período “Sansão e Dalila” (1949), “Os dez mandamentos” (1956) e “Ben-Hur” (1959), só para citar alguns. As produções tornaram-se caras, saturadas de cores, exibindo figurantes aos milhares, em cenários grandiosos e pomposos.
Observando esse contexto histórico torna-se compreensível entender a leitura realizada sobre o Egito Antigo pelas obras cinematográficas dos anos 1950, que, por um lado, representaram a sociedade egípcia como uma sociedade caracterizada por múmias, maldições e faraós psicologicamente desequilibrados. Por outro lado, essas mesmas obras foram responsáveis por cristalizar tais ideias nas mentes dos espectadores, que as trataram como novos saberes adquiridos, pois “[...] muitas das concepções veiculadas em nossa cultura [...] tem como referência significações que emergem das relações construídas entre espectadores e filmes” (DUARTE, 2009, p. 18).
A década de 1950 foi profícua na realização de produções cinematográficas sobre o Egito antigo. Entre vários lançamentos da época, destacamos “O Vale dos Reis” (1954), que parte de uma premissa bíblica. Segundo o roteiro do filme, um casal de arqueólogos procura evidências da viagem de José ao Egito antigo. Para isso, precisam localizar o túmulo do faraó Ra Hotep, que tem atraído a cobiça de saqueadores. Seguem-se perseguições, disputas e crenças religiosas. Mas, nenhum filme foi tão ambicioso quanto “Terra dos Faraós” (1955), que gira em torno da construção da pirâmide, a morada eterna do governante egípcio. “Terra dos Faraós” (1955) contou com a presença de milhares de figurantes. A trama mescla a obsessão do faraó em construir seu túmulo e a presença de uma segunda esposa desejosa de se apoderar de suas riquezas, mas que acaba por ser enterrada viva na pirâmide junto com o faraó falecido.
Mas, em termos de apropriação e manipulação de discurso, nenhum filme desse recorte e temática se compara a “O Egípcio” (1954), uma típica produção cinematográfica desse período histórico. A trama apresentada pelo roteiro narra a história de Sinuhe, abandonado recém-nascido, acaba por ser encontrado boiando em um cesto de junco à beira do Nilo. Observa-se, logo de início, uma tentativa de aproximação com o espectador cristão que identificará similaridade com a história de Moisés. Essa tentativa de aproximação do roteiro com a cultura cristã será a tônica do filme. Sinuhe é enviado para Tebas, e conclui sua graduação em medicina na “Escola da Vida”, uma espécie de universidade que prepara a elite do Egito. Sinuhe consegue abrir um consultório, como se fosse um profissional liberal de hoje, e socorre o faraó Akhenaton durante um ataque epiléptico. Com isso, as portas da prosperidade se abrem para Sinuhe.
Akhenaton está interessado em transformar a religião egípcia em um culto monoteísta, negando a existência de outros deuses em nome de Aton, o disco solar. Essa narrativa sobre um deus único, disfarçada em narrativa histórica, servirá como discurso ideológico da sociedade norte-americana, uma vez que a representação cinematográfica do culto monoteísta a Aton, presente em “O Egípcio” (1954), nada mais é do que a defesa das convicções cristãs daquela sociedade, naquele período.
Sabemos que Aton “[...] no século XIV a.C., foi reverenciado como um deus (SILVERMAN, 2002, p. 53). Amenhotep III já havia realizado algumas transformações religiosas em seu governo, dando maior espaço para Aton, que já existia no panteão dos deuses egípcios, mas como um deus de segunda categoria. Com a morte de Amenhotep III, seu filho Amenhotep IV assume e leva adiante as transformações religiosas iniciadas por seu pai. Sua reforma religiosa “[...] é, incontestavelmente, o episódio religioso-político mais controverso da história do Egito antigo” (SALES, 1999, p. 75).
Imaginemos por um momento as alterações sociais causadas por uma reforma religiosa em uma sociedade politeísta, como a do Egito antigo, acostumada a cultuar diversas divindades, de acordo com as necessidades do momento. Amenhotep IV declara Aton como deus único, alçando-o para o “seu zênite” (SILVERMAN, 2002, p. 94), superando e obscurecendo todos os outros deuses egípcios. Apesar de alguns autores chamarem a atenção para o fato de que a reforma religiosa promovida por Amenhotep IV tenha como objetivo retirar o poder crescente das mãos dos sacerdotes de Amon, seus resultados foram visíveis durante o seu reinado. O monarca alterou seu nome para Akhenaton e transferiu a capital de Tebas para a recém-construída Akhetaton (Horizonte de Aton).
Aton, diferentemente das demais divindades egípcias, não tinha uma representação antropozoomórfica, sendo representado por um sol cujos raios terminavam em pequenas mãos. De fato, isso também constituía uma intensa alteração no que diz respeito às formas figurativas pelas quais as divindades eram retratadas no Egito antigo. O “Hino a Aton” exprime a grandiosidade pela qual se buscava impor àquela sociedade: “És gracioso, grande, resplandecente e estás muito acima de todas as terras. [...] O mundo surgiu pela tua mão [...]” (SALES, 1999, p. 77). De qualquer forma, Amenhotep IV, ou Akhenaton, promoveu um monoteísmo agressivo, diminuindo a distância entre a divindade e a família real, tornando-se quase semelhante ao seu próprio deus.
Na película, questões contemporâneas acabam sendo apresentadas como se fossem naturais da sociedade egípcia antiga. Entretanto, o que podemos levar em consideração ao que diz respeito ao discurso ideológico inserido no roteiro é a defesa da crença cristã, escondida por debaixo de uma narrativa sobre o culto monoteísta a Aton, no Egito antigo. Sinuhe descobre ser meio-irmão do faraó (Moisés novamente?) e é tentado a assumir o trono, assassinando Akhenaton. Com sua recusa, acaba sendo preso, após a ascensão do novo faraó.
Sinuhe é então enviado para o exílio, defendendo a ideia de que “Temos apenas um senhor. O Deus que nos criou a todos. Apenas a sua verdade é imortal, e em sua verdade, todos os homens são iguais”. Observa-se uma alusão ao ideário do cristianismo, antes mesmo de seu advento. Essa mensagem é reforçada pela mensagem estampada antes dos créditos finais: “These things happened thirteen centuries before the birth of Jesus Christ”. Afinal, de quem tratava a película? De Aton ou do deus cristão?
O filme “O Egípcio” (1954) é um excelente exemplo de como os discursos ideológicos podem ser inseridos na trama do roteiro, nas entrelinhas da narrativa. O culto a Aton, durante o reinado de Amenhotep IV, pode ser facilmente trabalhado em sala de aula tendo a película aqui discutida como material de apoio. As transformações sociais e as questões teológicas são facilmente assimiladas com o auxílio da produção cinematográfica. Convém, entretanto, que o professor de história saiba discutir a temática presente em “O Egípcio” (1954), levando em consideração a época e a sociedade de sua origem, respeitando a mídia fílmica como uma obra do homem no tempo.
Conclusão
O cinema tem a característica de, apesar de ser um produto comercial, reconstituir épocas, reconstruir impérios e servir como fonte de pesquisa histórica. Sua potencialidade pedagógica está disponível para o professor que deseje realizar a interdisciplinaridade. A história do Egito Antigo, tão rica e vibrante, é campo fértil para a utilização de mídias fílmicas em sala de aula. Desde os anos 1930 temos longas-metragens dedicados ao tema.
Além disso, qualquer filme se mostra capaz de ser considerado texto histórico. Podemos utilizar os filmes como ilustração, fonte ou discussão em nossas aulas, incentivando a pesquisa em nossos alunos.
As películas aqui apresentadas mostram-se produtivas em apontar como a sociedade do Egito Antigo foi retratada pela indústria cinematográfica norte-americana da década de 1950, bem como o motivo pelo qual se deu essa representação. O filme “O Egípcio” (1954), em especial, possibilita que tenhamos uma janela aberta para o passado distante do Egito, observando a representação proposta sobre a reforma religiosa de Amenhotep IV. Da mesma forma, a película nos permite discutir como o discurso do cristianismo foi inserido no roteiro que se propôs a tratar sobre o culto monoteísta ao deus Aton.
Toda esta exposição nos serviu para que possamos considerar as produções cinematográficas, em especial as que tenham o Oriente Próximo como temática, como fontes de pesquisa e estudo histórico.
Referências
Marcelo Gonçalves Ferraz é graduando em História pela UPE (Campus Petrolina).
Referência fílmica:
O EGÍPCIO. Título original: The Egyptcian. Direção: Michael Curtis. Produção: Darryl Zanuck. Roteiro: Phillip Dunne. Distribuidora:  20th Century Fox. EUA, 1954. Cor. 136 min.
Referências bibliográficas:
CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito antigo. São Paulo: Brasiliense, 1992.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Deuses, múmias e ziggurats: uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
DESPLANCQUES, Sophie. Egito antigo. [S.l.]: L& PM, 2009.
DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. O Egito antigo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.
DUARTE, Rosália. Cinema & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
FERRO, Marc.  Cinema e história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
MASCARELLO, Fernando. Cinema hollywoodiano contemporâneo. In: MASCARELLO, Fernando (org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006.
ROSENSTONE, Robert.  A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
SABADIN, Celso. A história do cinema para quem tem pressa. Rio de Janeiro: Valentina, 2018.
SALES, José das Candeias. As divindades egípcias. Uma chave para a compreensão do Egito Antigo. Lisboa: Estampa, 1999.
SILVERVAN, DAVID. O DIVINO E AS DIVINDADES NA ANTIGO Egito. In: SHAFER, Byron (Org.). As religiões no Egito antigo: deuses, mitos e rituais domésticos. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Marcelo. A urdidura que você teceu entre o filme e os fatos do reinado de Amenófis IV é bastante precisa e aprofundada e, mesmo não tendo empregado imagens/fotografias do filme analisado em seu texto, sua análise não ficou comprometida, pelo contrário, está inteligível e objetiva.
    Posto isso, o interesse nosso é mais no sentido de tecer reflexões sobre o uso do filme como material de apoio do que realizar, propriamente, perguntas diretas. Entendemos que, sim, é possível trabalhar a obra em sala de aula desde que sejam problematizados a sua natureza explicitamente comercial e os seus aspectos ideológicos/morais. Porém, não enxergamos essa "facilidade" citada por você no decorrer do texto, uma vez que se trata de alunos em processo de aprendizagem e, se levada em conta a educação básica, não é tarefa simples problematizar para jovens e adolescentes que se refere a uma produção cinematográfica repleta de interesses escusos. Há que se problematizar vários fatores, claro, mas os estudantes tendem a tomar o documento fílmico como retrato fiel do passado e desconstruir essa concepção, do ponto de vista teórico-metodológico, constitui ação de alta complexidade.

    Abraços,
    Fábio Alexandre da Silva e Graziele Rodrigues de Oliveira

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    1. Achei fantástica sua abordagem, Fábio. Realmente, para os alunos, dependendo da série em que se encontram, a problematização trazida pelos filmes pode ser complexa. O professor tem que agir como facilitador, mediador da discussão e do debate gerado pela utilização da mídia fílmica. A tradução das linguagens cinematográficas deve ser realizada, a princípio, pelo professor, que indicará o caminho das pedras para que seus alunos construam seus próprios saberes, norteados pela curiosidade sobre o assunto. O "efeito de realidade" deve ser observado com cuidado. O filme na sala de aula deve servir como ferramenta auxiliar, de apoio. Alem disso, devemos sempre associar o filme a um bom texto, além do livro didático.

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  2. Marcelo ... Uma análise bastante acurada sobre o filme "O Egípcio" e o reinado de Amenófis IV - Akhenaton. Entertanto, é preciso, como bem apontado pelo Fabio Alexandre na mensagem anterior, que o professor esteja não só preparado para problematizar vários fatores, evitando que os estudantes tomem os fatos apresentados no filme como totalmente verídicos - e essa observação vale para qualquer filme que proponha abordar determinado fato "histórico" - como também conhecer com profundidade o tema que vai abordar. Apesar de aparentemente a religião atoniana ter um caráter monoteísta, na atualidade, essa visão tem sido questionada, pois ao se identificar como único intermediário entre Aton e os homens, Akhenaton era também adorado como um deus. O que leva os egiptólogos, já de há algum tempo, colocarem um caráter mais político do que religioso na reforma amarniana, especialmente contra o clero de Amon. Ademais, existe um entendimento corrente na atualidade que a religião egípcia não é politeísta, mas sim henoteísta, pois apesar da multiplicidade de deuses, existiam os chamados deuses criadores - Atum, Ptah, Amon-Rá - que em seus hinos são chamados de únicos e criadores de tudo o que existe, inclusive dos outros deuses. Pontualmente, achei bastante interessante sua colocação, relativo ao discurso ideológico em defesa da crença cristã inserido no filme. Com certeza, isso passa despercebido para a maioria dos que assistirem o filme. Sua colocação demonstra o leque de opções que o professor, a partir de um determinado ponto de análise, pode trabalhar com os alunos em sala de aula, tornando-a muito mais atrativa e interessante.

    Abraços,
    Wilson Aguiar Filho

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    1. Bom dia, Wilson. Inicialmente gostaria de agradecer o seu comentário e aproveitar o gancho para pedir desculpas a Fábio e demais leitores se, por um momento, tentei mostrar a mídia fílmica como uma ferramenta fácil para ser trabalhada em sala de aula. Não é, definitivamente. O professor que não tiver um conhecimento mínimo sobre a temática cinema e história - e aqui vou um pouco além, destacando a necessidade de uma leitura mínima sobre linguagem cinematográfica e análise fílmica - tenderá a usar o filme como ferramenta de ilustração, caindo na armadilha do "efeito de realidade", exposto por vocês. Gostaria de dividir com vocês o resultado de minhas observações sobre cinema e história. O que difere o filme como objeto de lazer e instrumento pedagógico é a sua utilização, apoiada em textos que direcionem o estudo e/ou a pesquisa. O filme sozinho é só um filme mesmo:material de consumo e entretenimento. O filme, como apoio do livro didático e textos escolhidos com critério, é ferramenta pedagógica. A proposta que eu trouxe diz respeito a utilização do material fílmico para alunos do segundo grau, baseada na observação dos conteúdos do livro didático. Nós sabemos que os resultados mais recentes da pesquisa histórica demoram um pouco para serem levados para o ensino médio. Dessa forma, ainda discutimos a religião do Egito antigo como politeísta. A observação que você fez sobre o discurso ideológico cristão é justamente a capacidade, que tentei mostrar no trabalho, presente nos filmes, de abordarmos temáticas secundárias inseridas. Isso nos mostra a potencialidade que as mídias fílmicas apresentam, alargando o horizonte do professor em sala de aula.
      Mais uma vez obrigado e um grande abraço.

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