REFLEXOS PERDIDOS: UM ESTUDO DAS RELAÇÕES TURCO-AMERICANAS
POR MEIO DA FILATELIA
Matheus Henrique da Silva Alcântara
Introdução
Na atualidade vem crescendo no Brasil o
interesse por estudos envolvendo Oriente Médio, especialmente com relação á
Turquia, após a publicação do livro de Monique Sochaczewski, “Do Rio de Janeiro
a Istambul: contrastes e conexões entre o Brasil e o Império Otomano 1850-1919”
(Brasília, FUNAG, 2017), que apresenta um passado conectado entre os impérios
periféricos. Devendo-se igualmente aos recentes eventos ocorridos na região,
como a Primavera Árabe (2010), e Guerra da Síria (15 de março) que perdura ate
os dias de hoje. Trás a tona questões como: Qual o papel da Turquia no Oriente
Médio? Qual a natureza das relações entre este país e as grandes potências,
como os Estados Unidos? País este ao qual a Turquia foi aliada durante o
período da Guerra Fria (1947-1991), participando ativamente, segundo Santos
(2013), da “estratégia de contenção” ao comunismo. Mas para compreendermos essas questões temos
que retornar ainda no período do Império Otomano, e analisarmos “Questão
Oriental”, onde as grandes potências procuravam impor seus interesses através
do poder econômico.
O objetivo essencial desta pesquisa é
estudar como se iniciaram as relações entre os Estados Unidos da América e a
República da Turquia (pós-guerra da independência), que colocou fim ao império
em 1922, e proclamou a república em 1923. Utilizando-se dos selos comemorativos
turcos sobre o aniversário da Independência Americana como instrumento que
possibilitará compreender a tentativa de aproximação das relações diplomáticas
entre os dois países. A Turquia foi um estado que surgiu das “cinzas” Império
Otomano, que havia participado na guerra ao lado dos “Impérios Centrais”
(Império Alemão, e Império Austro-Húngaro), ou seja, a reputação internacional
turca estava alicerçada no seu passado de “violência otomana”. Enquanto que os
Estados Unidos foram combatentes ao lado da Tríplice Entente (Reino Unido,
França, Rússia), sendo transformados em grande potência militar, econômica e
industrial no pós-guerra.
A aproximação entre esses dois países
pode ser explicada pelo turbulento período pelo qual passava a Turquia no
pós-guerra, tendo que construir um sentimento de identidade nacional para
formar um estado, longe do passado otomano, teve que procurar alianças. E os
Estados Unidos se apresentaram como este possível “amigo”, não através de uma
ligação identitária, mas por aspectos ideológicos, como defesa e
desenvolvimento. Tendo como resultado uma relação embora conflituosa às vezes,
mas que levou a Turquia a se estabelecer como um baluarte dos interesses
americanos, e anti-comunistas no século passado.
Os americanos no império
Otomano
As relações entre os americanos e
turcos sempre foi problemática do ponto de vista de alinhamento de interesses.
Ainda no Império Otomano, quando se iniciaram as relações entre os dois países,
os Estados Unidos tinha objetivo aproveitar economicamente da situação de
abertura ao capital externo as terras otomanas, promovida pelas reformas do
Tanzimat. Sendo complementada com o “dever” de resguardar os interesses de
americanos atuantes ou residentes no império, devido às missões humanitárias e
de evangelização (MORGENTHAU, 2010). Em paralelo a isso havia também militares
norte-americanos que migraram para o império, pós–Guerra Civil Americana
(1861-1865), para atuarem como instrutores na modernização do exército otomano.
Segundo Lewis (2004, p.75):
“Após o fim da Guerra Civil, alguns
oficiais norte-americanos desempregados conseguiram até mesmo fazer carreira a
serviço dos governantes muçulmanos, ajudando-os a modernizar seus exércitos.
Missionários norte-americanos, embora proibidos de fazer proselitismo religioso
entre os muçulmanos, foram capazes de transformar alguns cristões ortodoxos em
presbiterianos e, mais importante, de oferecer uma moderna educação
secundarista e universitária a quantidades crescentes de rapazes e,
posteriormente, de moças – primeiro das minorias e, por fim, de muçulmanos”.
Enquanto que a Sublime Porta procura se
modernizar e acompanhar o desenvolvimento da Europa, nos aspectos econômicos,
militares e estruturais, tendo recorrido a diversos países (França, Inglaterra,
e Alemanha) para atingir esses objetivos. (PALMER, 2013). Um dos embaixadores
americanos que deixou um relato satisfatoriamente elucidativo sobre os
interesses tanto americanos quanto otomanos, no que diz respeito ao
estabelecimento de relações entre os dois países, foi o embaixador americano
Henry Morgenthau (1856-1946), que atuou em Constantinopla entre 1913 e 1916.
Emigrante de origem judaico-alemã foi naturalizado americano, formou-se
advogado passando atuar na cidade de Nova York. Na campanha presidencial de
1912 foi bastante ativo na política do Partido Democrata que elegeu Woodrow
Wilson (1856-1824) presidente. Isso permitiu a Morgenthau galgar degraus na
diplomacia americana, sendo indicado como embaixador em 1913. Em sua atuação
junto a Sublime Porta, conseguiu estabelecer uma relação pessoal com os líderes
dos Jovens Turcos (Djemal, Enver, Talaat), particularmente com o Ministro do
Interior, Mehmet Talaat. Segundo as palavras do embaixador os Jovens Turcos
estavam em posse de um “império esgotado”:
“No geral, eles não tinham experiência
na gestão de um império. Suas fianças estavam esgotadas; o exército e a
marinha, quase em frangalhos; os inimigos constantemente tentavam solapá-los em
seu próprio território e as grandes potências os consideravam aventureiros
pobres cuja carreira estava destinada a ser breve. Sem o forte apoio de uma
fonte externa, a questão era quanto o novo regime poderia sobreviver. Tallat e
sua Comissão precisavam que alguma potência estrangeira organizasse o exército
e a marinha, financiasse a nação, os ajudasse a reconstruir o sistema
industrial e os protegesse das intromissões das nações vizinhas”. (MORGENTHAU,
2010, p.31)
O embaixador Morgenthau formulou
perfeitamente a situação política, econômica, e militar a qual do Império
Otomano estava sujeito após um século de retração territorial. Onde a
magnificência do sultanato não pode esconder sua inabilidade em promover
reformas, capazes de estruturar novas bases para a manutenção do império. A
ascensão dos Jovens Turcos é compreendida como um evento passageiro, um passo a
mais em direção ao esfacelamento territorial, pelas grandes potências. Então,
Tallat e sua “Comissão” deveriam buscar o apoio de uma potência que lhe
permitisse desenvolver-se industrialmente, bem como equipar e organizar suas forças
armadas, ou seja, financiar sua independência. A primeira vista, os Estados
Unidos pareciam “um país idealista e altruísta”, uma opção frente às potências
centrais. Segundo o embaixador os “nossos interesses na Turquia eram pequenos”:
“Ao descrever as relações entre as
grandes potências e a Turquia, não mencionei os Estados Unidos. Na verdade, não
tínhamos relações comerciais importantes naquela época. Os turcos nos
consideravam um país idealista e altruísta, e o fato de termos gastado milhões
construindo maravilhosas instituições educacionais em seu país por motivos
puramente filantrópicos os deixava atônitos e possivelmente admirados. Eles
gostavam dos americanos e nos consideravam praticamente seus únicos amigos
desinteressados entre as nações. Todavia, nossos interesses na Turquia eram
pequenos; os negócios da Standar Oil Company estavam crescendo, a Singer
Company vendia máquinas de costura aos armênios e gregos; comprávamos uma
quantidade razoável de tabaco, figos e tapetes e adquiríamos a raiz do alcaçuz.
Além dessas atividades, missionários e especialistas em educação formavam
nossos únicos contatos com o Império Turco. Os turcos sabiam que não
desejávamos desmembrar seu país ou nos intrometer na política dos Bálcãs”.
(MORGENTHAU, 2010, P.37-38)
Podemos perceber pela análise do
comentário do embaixador que os interesses americanos transcendiam a palavra
“pequenos”, pois a Singer Company era uma das maiores fabricantes americanas de
máquinas de costura que adentrava no mercado otomano, para concorrer com marcas
inglesas e francesas. E a presença de uma empresa de exploração de petróleo nas
terras otomanas, demonstra a vontade dos empresários americanos de explorarem
este recurso mineral, que se tornava cada vez mais necessário para a indústria
dos transportes.
Contudo, o alinhamento político
econômico se deu com o Império Alemão, que havia cultivando durante muitas
décadas uma boa relação junto a Sublime Porta, pois foi à única grande potência
europeia que não havia se apropriado de territórios otomanos (MORGENTHAU,
2010). Além de contar com um hábil diplomata, o embaixador Hans Freiherr von
Wangenheim, que soube conciliar os interesses expansionistas alemãs com
militarismo-desenvolvimentista otomano. Esse alinhamento voltado para a
satisfação dos interesses nacionalistas dos dois impérios levou ambos a
adentrar em um dos conflitos mais sangrentos da história humana, a I Primeira
Guerra Mundial.
Pós-guerra e a formação
da república Turca
Durante a I Guerra Mundial o império
Otomano obteve um sopro de vitalidade quando derrotou as forças britânicas,
neozelandesas e australianas (ANZACs) na Batalha de Galípoli
(abr./1915-jan./1916), marcando sua primeira vitória, e talvez única. Com o
desenvolvimento do conflito, o nacionalismo turco-otomano elege um inimigo
interno, os armênios. Este povo que há séculos integrava o mosaico otomano é
segregado e assassinado brutalmente aos milhares, constituindo um dos maiores
massacres/genocídios do século XX, onde aproximadamente um milhão e meio de
pessoas foram mortas em deslocamentos forçados, maus-tratos, fome, expulsões, e
fuzilamentos. Genocídio este relatado pelo embaixador Morgenthau em seu livro,
no qual ele relata ao Departamento de Estado Americano, “alertando que uma
campanha de extermínio de uma raça está em andamento” (2010, p. 8). Em paralelo a isso ocorre a Revolta Árabe
(1916) que desestabiliza o fraco império, que agora passa a lutar em duas
frentes (no norte com os russos e no sul com os árabes). As forças despreparadas
e mal equipadas dos otomanos são facilmente vencidas, permitindo o avanço
inimigo. No dia 7 de outubro 1918 os Jovens Turcos são derrubados do poder, o
sucessor Izmet-Pacha assinou o Armistício de Mudros, em 30 de outubro cessando
hostilidades e desarmando as forças militares otomanas.
Acordos secretos entre as potências
imperialistas da época foram assinados procurando dividir os despojos do
moribundo império. Um exemplo disso são os Acordos de Sykes-Picot em 9 de março
de 1916, que resultaram na divisão do Império Otomano em zonas de influencia
das grandes potências vencedoras (Inglaterra, França e Itália). Os acordos
secretos mais o Tratado de Sevrés (10 de agosto de 1920) que praticamente
desmembrava o território turco proporcionou a criação do sentimento de revolta,
sob a liderança do herói de guerra, Mustafá Kemal que proclama a República
Turca em abril de 1920, tendo como capital a cidade de Ancara, e empreende uma
luta contra as forças leais ao imperialismo. Somente de julho de 1923, com a
assinatura do Tratado de Lousane, o estado independente turco é reconhecido
internacionalmente, e Mustafá Kemal recebe o título de Atarturk (Pai dos
Turcos).
No pós-guerra a situação do nascente
país é incerta, conflitos sobre limites territoriais surgem em todo o país,
somado ao agravamento de uma crise econômica e social interna, além de não
contar com o apoio de potências estrangeiras para sua reestruturação. A
presença dos Estados Unidos, que incialmente pretendeu se afastar das questões
envolvendo o Oriente Médio (Becker, 2011) durante os debates do Tratado de
Versalhes, especialmente após a saída do presidente Woodrow Wilson com o fim do
seu mandato. Embora a posição do país tenha sido de repreensão às países
europeus, que procuravam humilhar seus inimigos através dos acordos de paz,
principalmente através da tomada de posse de territórios coloniais no caso
alemão, semelhante ao caso otomano com os territórios do Oriente Médio.
O então presidente da nova República
turca, Mustafá Kemal, passa a empreender um amplo pacote de medidas que visam á
transformação radical da sociedade turca. Entre elas está á abolição do
califado otomano, a proclamação de um estado laico, á adoção o calendário
gregoriano, modificação do alfabeto (antes baseado na escrita arábica passa
agora a utilizar os caracteres latinos), bem como a instituição de um código
civil e penal leigo, em oposição a Sharia (conjuntos de leis baseadas na
religião muçulmana). Essas medidas de cunho ocidentalizante procurava aproximar
o recém-nascido país das grandes potências surgidas após o final da guerra,
principalmente os Estados Unidos, que saiu do conflito fortalecido
economicamente e militarmente.
A questão com a Grécia começa ainda em
1920 quando os gregos se aproveitam da derrota otomana na guerra, invadindo e
ocupando as cidades de Usak, Edirne e Bursa. Após o processo de expulsão das
potências imperialistas, Mustafá Kemal enfrenta os gregos na Anatólia pela
retomada dos territórios anexados. Essa disputa culminara na troca de
populações entre os dois países, iniciada ainda maio de 1923, onde gregos
ortodoxos residentes na Turquia seriam relocados para a Grécia, enquanto que
turcos muçulmanos residentes na Grécia deveriam ser realocados para a Turquia.
O que produziu um verdadeiro êxodo de aproximadamente um milhão de pessoas.
Acordos posteriores procuraram sanar os problemas advindos dessa disputa, como
os Tratados de Ancara em 1925 e de Atenas em 1926 (Santos; 2013).
Somente na década de 1930 uma
aproximação entre os dois países foi possível, e paulatinamente foi se
estabelecendo relações diplomáticas amigáveis, conforme as tensões com a Grécia
diminuíam. Em 1938 é lançada pelo correios da República da Turquia uma coleção
de selos em comemoração a Independência Americana:
Coleção de selos postais turcos de comemoração a
Independência Americana impressos em 1938.
Fonte: Acervo Filatélico de Matheus
Henrique da Silva Alcântara (autor).
Os turcos começaram a produzir selos
ainda durante o Império Otomano em 1863, no período do Tanzimat (1839-1876),
com a modernização e padronização do sistema postal otomano que tinha por
objetivo interligar as diversas partes do império, inclusive com um sistema de
tarifas postais representado pelos selos. Estes selos procuravam representar o
sentimento de pertencimento ao império e ao sultanato, com representações da
capital (Constantinopla) ou com a representação do Sultão Maomé V. Após a
proclamação da República Turca os selos continuam a possuir um carácter
político e ideológico em suas representações. Segundo Burke (2017):
“Uma das soluções comuns para o
problema de tornar concreto o abstrato é mostrar indivíduos como encarnações de
ideias ou valores. Na tradição ocidental, um conjunto de convenções para
representação do governante como heroico, uma espécie de super-homem, foi
estabelecida já na Antiguidade Clássica”. (2017, p. 103)
Através da análise dos selos é
perceptível a tentativa de equiparar as duas nações como iguais, ao mesmo tempo
em que democráticas. Nos primeiros (localizados na parte superior), podemos ver
uma mão segurando uma vara na qual está hasteada as bandeiras americana e
turca, com uma estrela no topo as iluminando, procurando representar uma
associação entre os dois países para o futuro. Nos outros (localizados na
diagonal direita da imagem) podemos observar a representação de George
Washington e Mustafá Kemal, com o entorno ornado, no fundo com o mapa dos
Estados Unidos. Está imagem por sua vez tentam representar as duas nações que
embora separadas geograficamente, são estados democráticos, que devem sua
independência no caso americano, e libertação no caso turco, do julgo da
dominação estrangeira por dois generais revolucionários. George Washington foi
o comandante do Exército Continental que reunia as treze colônias na luta
contra a dominação britânica, se envolvendo pessoalmente nos combates, sendo
considerado posteriormente um dos Pais fundadores dos Estados Unidos (Karnal;
2007). Enquanto que Mustafá Kemal era um ex-oficial do exército otomano, que
havia lutado na Batalha de Galípoli, e estava insatisfeito com o governo fantoche
de Constantinopla manipulado pelas potências europeias, decide por sua vez a
formar um novo governo com sede em Ancara, de onde passa a lutar contra as
tropas otomanas leais ao imperialismo (Fronkin; 2008).
Os dois últimos selos (localizados na
diagonal esquerda da imagem) estão representados os respectivos presidentes dos
Estados Unidos e da Turquia no ano de 1938, Franklin Delano Roosvelt e Ismet
Inönü como iguais, ou seja, chefes de uma nação democrática. Neste período
Franklin Roosvelt estava no auge de sua popularidade por empreender um projeto
de reforma econômica, e política (New
Deal) para a recuperação dos Estados Unidos após a crise de 1929, que
afetou sobre maneira o país:
“Em 1933 e 1934, Roosevelt lançou o
primeiro New Deal – um pacote de reformas para promover a recuperação
industrial e agrícola, regular o sistema financeiro e providenciar mais
assistência social e obras públicas. O principal órgão público criado pelas
reformas, a Administração da Recuperação Nacional (NRA, em inglês), foi
desenhado para controlar a economia por meio de uma série de acordos entre
empresários, trabalhadores e o governo, estabelecendo limites para os preços,
salários e competição. Programas de planejamento regional, obras públicas e
subsídios á construção civil tentaram animar a economia enquanto diversos
esquemas de previdência e empregos públicos foram implementados para mitigar o
desemprego”. (KARNAL, 2007, p.209-210)
Juntamente como o Plano New Deal veio também a “Política da boa
Vizinhança”, que passou a gerir a política externa americana, onde “bons
vizinhos” deveriam cumprir os acordos estabelecidos e respeitar os tratados.
Está política externa foi destinada especialmente aos países latino-americanos,
mas não impediu que se estendesse até outros continentes como o caso da
Turquia.
No caso de Ismet Inönü, o presidente
turco enfrentava a difícil tarefa de estruturar a democracia turca
internacionalmente (estabilidade interna), além de solucionar problemas de
delimitação de fronteiras em conjunto com uma incipiente estrutura militar e
falta de investimentos na economia. Para resolver estes problemas, o governo
promoveu na política externa turca o princípio de “Paz em casa e Paz no Mundo”,
centrada em: a) manter boas relações com URSS; b) estabelecer boas relações com
os vizinhos; c) relacionamento amigável com as grandes potências. Isso permitiu
a Turquia não participar da II Guerra Mundial (1939-1945). Contudo, não impediu
que o governo soviético realiza-se pressão pelo domínio do Bósforo, culminando
na assinatura do Tratado de Montreux (1936) que permitia a livre utilização do
estreito pelos soviéticos (Santos; 2013).
No que diz respeito á relação com os
Estados Unidos, a Turquia começou a encarar o país como possível aliado contra
a expansão soviética ainda nos anos 1930, por isso, tentativas de alinhamento político e
econômico são traçadas pelo governo turco para se aproximar dos Estados Unidos.
A edição dos selos comemorativos da Independência Americana, representa este
projeto político. Que embora não tenha se efetivado nos anos 1930, devido á
força do nacionalismo (influência do Islã Político) e da oposição americana,
ganhou novos contornos no pós-II Guerra Mundial. A disputa pela hegemonia mundial
representada pela disputa dos blocos, capitalista (liderados pelos Estados
Unidos) e socialista (capitaneado pela URRS), trouxe á Turquia para o cenário
mundial, devido a sua situação geopolítica entre o Oriente e o Ocidente;
permitindo uma aproximação dos Estados Unidos para a manutenção de seus
interesses tanto no Oriente Médio, quanto na Ásia num contexto geral.
Conclusões
Portanto, as relações políticas entre a
Turquia e os Estados Unidos estão alicerçadas no passado otomano, quando o
contato diplomático entre os dois países teve início. A estádia do embaixador
Morgenthau durante os conturbados anos de 1913 até 1916 trouxe para os Estados
Unidos á visão de um país completamente contrário aos padrões americanos. O retrato ímpar do genocídio armênio, escrito
pelo embaixador demonstra como o antigo, e decadente Império Otomano procurava
reavivar a unidade e o sentimento nacional, fundamentalmente islâmico, em
detrimento das minorias cristãs. Com a entrada dos americanos ao lado das
potências aliadas durante a I Guerra Mundial, as relações entre os dois países
é rompida, sendo somente reestabelecidas após a proclamação da República Turca
em 1923. No pós-guerra a atuação americana se contrabalanceou entre criticas e
aproximações. As primeiras se deveram principalmente entorno da questão grega,
onde a Turquia e a Grécia ainda se digladiavam pela delimitação de suas
fronteiras, conflito que perdura até hoje com a ocupação da ilha do Chipre. Em
conjunto também com tentativas do governo americano de pressionar os turcos
pelo reconhecimento do genocídio armênio, o que produzia atritos e ameaças de
rompimento das relações diplomáticas. No que diz respeito às aproximações, os
Estados Unidos começaram a perceber a importância da Turquia como um eventual
aliado na defesa de seus interesses no Oriente Médio. Isso explica porque a
república turca produziu selos comemorativos da Independência dos Estados
Unidos, mostrando tanto Franklin D. Roosvelt quanto Ismet Inönü com iguais. A
importância da Turquia para a política americana é demonstrado pela estratégia
de “contenção” ao comunismo durante a Guerra Fria (1947-1991), na qual o país
assumia uma posição chave, é um símbolo dessa aproximação, é o ingresso da
Turquia na OTAN em 1952. A Guerra Fria marcou definitivamente um alinhamento de
interesses entre os dois países, que perdurou até a Primavera Árabe (18 de
dezembro de 2010), quando houve um afastamento entre as partes, e os turcos
procuram se estabelecer como uma potência regional no Oriente Médio.
Referências
Matheus Henrique da Silva Alcântara,
estudante de graduação do curso de licenciatura em História da Universidade
Federal de Campina Grande, e integrante do Programa de Educação Tutorial (PET)
– História, como bolsista.
E-mail:
henriquemineracao2015@gmail.com.
BECKER, Jean- Jacques. O Tratado de
Versalhes / Jean-Jacques Becker; tradução Constancia Egrejas. – São Paulo:
Editora Unesp, 2011. 224p.
BURKE, Peter. Testemunha ocular:
história e imagem / Peter Burke; tradução Vera Maria Xavier dos Santos; revisão
técnica Daniel Aarão Reis Filho. – Bauru-Sp: EDUSC, 2004.
FROMKIN, David. Paz e guerra no Oriente
Médio: a queda do Império Otomano e a criação do Oriente Médio Moderno / David
Fromkin; tradução de Teresa Dias Carneiro. – Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.
KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luiz
Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de; PURDY, Sean - História dos Estados Unidos:
das Origens ao Século XXI, - São Paulo: Contexto, 2007.
LEWIS, Bernard. A crise do islã: guerra
santa e terror profano / Bernard Lewis; tradução; Maria Lúcia de Oliveira. –
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
MORGENTHAU, Henry (1856-1946). A
história do embaixador Morgenthau: o depoimento pessoal sobre um dos maiores
genocídios do século XX / Henry Morgenthau; tradução Marcello Lino. – São Paulo:
Paz e Terra, 2010.
PALMER, Alan. Declínio e queda do
Império Otomano / Alan Palmer; tradução Gleuber Vieira. – São Paulo: Globo,
2013.
SANTOS, Waldeir Eustáquio dos. A
geopolítica da guerra-fria: a relação entre Turquia e Estados Unidos na
estratégia de contenção / Waldeir Eustáquio dos Santos. Belo Horizonte:
PUC-Minas, 2013.
Disponível:<http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/R-elInternac_SantosWE_1.pdf
>. Acesso: 04/05/2019.
ACERVO:
Acervo Filatélico de Matheus Henrique
da Silva Alcântara (autor).
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