“POR QUE ME ABANDONASTE?”: O IMPÉRIO DO ORIENTE E O MARTÍRIO
AFRICANO PARA O BISPO VICTOR DE VITA
Geraldo Rosolen Junior
Após sucessivas campanhas contra os
Impérios do Ocidente e Oriente para reafirmar a autonomia do Reino Vândalo, e
legitimar os domínios sobre os territórios ocupados, o rei vândalo Genserico
por volta de 474 utilizou de sua posição privilegiada, e de suas campanhas
bem-sucedidas, para estabelecer um tratado de paz duradouro com o imperador
Zenão e, que deveria continuar a prevalecer mesmo após a morte de seus
signatários. O tratado foi benéfico para ambas as partes, pois reduziu as
pressões militares ao Oriente, e garantiu estabilidade política aos vândalos.
Entretanto, para o bispo católico Victor de Vita, a pacificação de Zenão
representou o abandono do Império para os ‘romanos’ na África. Sua obra,
escrita em meados de 489, é um testemunho das violências promovidas pelos
vândalos, da qual propusemos avaliar como a pacificação do Império Oriental
pode ter representado, para esse autor, a cumplicidade sobre essas atrocidades.
Uma guerra, duas frentes: O Reino
Vândalo e os Impérios do Oriente e Ocidente.
Certamente a chegada dos vândalos na
África em 429 teve maiores consequências para o Império Romano Ocidental, por
ser um território sob sua administração, mas também pela importância econômica
dessas províncias para o abastecimento de produtos alimentares em todo
Ocidente, com destaque especial as províncias de Byzacena e África Proconsular,
territórios ocupados pelo Reino Vândalo a partir de 439, tendo a dominação de
Cartago sido o ápice de sua conquista nesse ano. (CAMERON, 2008)
Embora, durante o século V as metades
do Império Romano não fossem uma unidade política coerente, suas relações
apresentam laços políticos fortes, a ponto de haver intervenções de um sobre o
outro, principalmente nos finais do Império Ocidental, aonde o Oriente era
responsável por nomear os imperadores no Ocidente, a posição de submissão de
Roma garantia o apoio oriental. (HEATHER, 2008; HUGHES, 2017)
Deste modo, como havia ainda no século
V uma tradição política de expressar a unidade imperial, para o Império do
Oriente auxiliar na recuperação das províncias africanas, era se eximir da
responsabilidade de sustentar o Ocidente. Essa reflexão tornasse mais evidente
na medida em que observamos as campanhas militares do Oriente na África, o
primeiro auxílio após a chegada dos vândalos em 429, deu-se no ano de 431 após
o cerco de Hippo Regius quando “[...] o Império do Oriente decidiu que os
vândalos eram uma ameaça suficiente para ajudar o Ocidente, e uma expedição foi
preparada para a África.” (HUGHES, 2017, p.127), essa primeira expedição não
teria sido suficiente para derrotar os vândalos, tendo apenas um efeito
paliativo para barrar seu avanço.
Podemos evidenciar que o apoio do
Oriente na África colaborou indiretamente para agravar as crises políticas e
militares no Ocidente, isso porque o comandante africano Bonifácio pode se
concentrar na disputa pelo cargo de magister militum que causou sua morte em
432, “Derrotar os rivais romanos antes de atacar a ameaça bárbara pode parecer
uma ordem errada de prioridades. Mas, a crise política não suspende a ambição
pessoal” (HEATHER, 2008, p.8). A retirada do Oriente das campanhas na África
veio em 434 devido à necessidade de se defenderem dos ataques dos hunos nesse
ano, a retirada das tropas orientais forçou o Império Ocidental a negociar um tratado
de paz com os vândalos em 435. (CAMERON, 2008; HEATHER, 2008; HUGHES, 2017)
A paz entre romanos e vândalos foi
rompida quando, em 439 os vândalos promoveram um avanço decisivo às províncias
de Byzacena e África Proconsular que concentravam grande parte da produção
alimentícia do Ocidente, de acordo com Hughes, pouco após conquistarem a cidade
de Cartago, os vândalos saquearam a Sicília na intenção de fortalecer sua
posição, destruir portos e tomar navios que poderiam ser utilizados em um
contra-ataque, além disso, a devastação da Sicília também teve efeitos
econômicos, devido sua importância para a produção de grãos para a Itália,
“[...] o Ocidente perdeu o controle de seus bens mais preciosos [...] uma
situação ruim ficou incomparavelmente pior.” (HEATHER, 2008, p.14).
Com o Império do Ocidente a beira de um
colapso devido à conquista de Cartago e a devastação da Sicília, de acordo com
Roland Steinacher (2016) assim que tomaram consciência desses eventos os
imperadores Valentiniano III e Teodósio II exigiram o fortalecimento de defesas
das cidades litorâneas, em 441 os Impérios do Oriente e Ocidente recorreram a
soma de seus poderes militares com o objetivo de reconquistarem as províncias
africanas, e restabelecerem a primazia militar e econômica no Mediterrâneo que
foi ameaçada pelos vândalos, a força expedicionária enviada pelo Império do
Oriente somava sozinha, “Supostamente, nada menos que 1100 navios de transporte
partiram do porto de Constantinopla em 441, e aportaram na costa siciliana.”
(STEINACHER, 2016, p.214). Entretanto, o objetivo de um contra-ataque foi
rapidamente irrompido pelos ataques conjuntos de hunos e persas contra o
Império do Oriente. (HEATHER, 2008; STEINACHER, 2016; HUGHES, 2017)
Novamente, a ausência de tropas
orientais acarretou no estabelecimento de um novo tratado de paz entre o
Império Ocidental e o Reino Vândalo no ano de 442, obviamente esse tratado foi
favorável aos orientais, pois puderam se concentrar na guerra contra a Pérsia,
mas acarretou no consentimento das províncias de Byzacena e África Proconsular
que ficou sob poder dos vândalos, gerando uma dependência econômica do Ocidente
para com o Reino Vândalo que concordou em manter o suprimento de grãos, “Como
as províncias da África produziam um excesso muito grande de grãos, esse era um
preço pequeno para Genserico pagar em troca de ser aceito como governante da
África.”. (HUGHES, 2017, p.162)
Com o assassinato de Valentiniano III
em 455, o tratado de paz de 442 havia chegado ao fim, nesse ano os ataques
vândalos ao Ocidente recomeçaram, ocasionando o saque de Roma em 455. O Império
do Oriente assumiu uma posição de mediador durante esse período, e nenhum
ataque foi realizado, embora o imperador Marciano tenha iniciado uma campanha
em 456, sua morte no ano seguinte encerrou essa possibilidade. Seu sucessor o
imperador Leão estabeleceu um tratado de paz com os vândalos em 462, “Durante
anos, o tratado de paz com o Oriente impediu Constantinopla de intervir contra
os vândalos e prestar assistência militar ao Ocidente.” (STEINACHER, 2016,
p.326). Após sucessivas pressões do Ocidente, a paz foi rompida em 467 e os
novos planos para reunir os exércitos de ambos os Impérios foram restauradas,
entretanto, a invasão da África não foi bem-sucedida, e os vândalos foram
vitoriosos na guerra. (STEINACHER, 2016; HUGHES, 2017)
A década de 470 apresenta
transformações nas políticas externas do Reino Vândalo, pois não havendo mais
uma ameaça significativa do Império Ocidental, Genserico pode direcionar suas
atenções para negociar a paz não apenas com Oriente, mas também com outros
povos germânicos. Nesse período Genserico estava na velhice e, talvez estivesse
disposto a garantir posições políticas estáveis para seus sucessores.
De acordo com Ian Hughes após a morte
do Imperador Leão em 474 o rei Genserico estava disposto a restabelecer novos
acordos de paz com o Império do Oriente. Entretanto, como já era característico
de Genserico para manter o poder de seu exército em evidencia, ele promoveu
vários ataques a Península Balcânica pelo mar Jônico, determinado a “[...]
obter os melhores termos possíveis para qualquer tratado de paz assinado.”
(HUGHES, 2017, p.270), com o sucessor de Leão, o imperador Zenão. Sua ofensiva
contra os romanos no Oriente parece não ter sido a única estratégia para alcançar
boas condições em um tratado com o Império, pois Hughes pontua que a boa
relação com os líderes godos, sugere ter sido esse, um fator determinante para
a paz, “Genserico estava tentando formar uma aliança com Strabo que aumentaria
a pressão sobre Zenão para chegar a um acordo. [...] evidências sugerem que a
embaixada foi um sucesso.” (HUGHES, 2017, p.270)
De acordo com Roland Steinacher o
tratado de paz entre Genserico e Zenão demorou cerca de dois anos para que os
preparativos ficassem prontos, isso porque, “O imperador e Genserico chegaram
ao entendimento de que uma paz eterna (ἐς τὸν πάντα αἰῶνα) entre vândalos e romanos deveria
ser concluída.” (STEINACHER, 2016), a chamada ‘paz eterna’ que Procópio
atribuiu ao tratado de 476 permaneceu em vigor até o governo de Justiniano.
África e Oriente na Historia Persecutionis de Victor de Vita
Para que possamos evidenciar o caráter
do julgamento de Victor de Vita acerca da relação entre a África Vândala e o
Império do Oriente, torna-se necessário apresentar alguns pontos fundamentais
sobre sua vida, e principalmente sobre sua obra e como ela teria sido
concebida.
John Moorhead tradutor da obra
‘Historia Persecutionis Africae Provinciae’ de Victor de Vita, destaca a
dificuldade de localizar temporalmente este autor, em decorrência, dos poucos
vestígios sobre sua vida se encontrarem nos seus próprios escritos, a partir
disso Moorhead levanta a hipótese que Victor de Vita seria contemporâneo ao
reinado vândalo de Hunerico (477-484) destacando que, “[...] na época do
concílio convocado por Hunerico em 484, um bispo chamado Victor governava a sé
de Vita em Byzacena” (MOORHEAD, 2006, p.XV). Moorhead também demonstra duas
características evidentes aos leitores da obra, a primeira enfatizaria o
pertencimento de Victor a doutrina católica resultante de suas preocupações com
o rebatismo, e a paridade da Divina Trindade e a segunda, evidencia que ele não
foi um dos “[...] 4966 clérigos que foram exilados por Hunerico” (MOORHEAD,
2006, p.XV) permitindo considerar que suas convicções religiosas haviam sido
suprimidas com as perseguições aos católicos, fato que pode ser atestado, por
seus livros terem sido produzidos no ano de 489, após a morte de Hunerico e do
ápice das perseguições aos católicos em 484, como o próprio Victor destaca: “É
evidente, que este é agora o sexagésimo ano desde que as pessoas cruéis e
selvagens da raça vândala pisaram no território da África infortunada.” (VICTOR
OF VITA, 2006, p.3), escrevendo sob o reinado de Guntamundo que encerrou a
perseguição e permitiu o retorno de clérigos católicos a África.
A imagem que Victor de Vita configura
dos vândalos, são de indivíduos que se sentem ameaçados com a presença de
membros ilustres da sociedade romana africana “[...] quando eles avistavam
algum nobre digno de honra, a ira de sua fúria era aumentada.” (VICTOR OF VITA,
2006, p.4-5), desta maneira, consideramos natural que os bispos e clérigos
influentes, tivessem sido um alvo da fúria desse povo durante o processo de
assentamento entre 429 e 439, contudo, Victor de Vita insiste em considerar que
a violência contra clérigos católicos tinha, desde a chegada na África,
conotação de uma perseguição religiosa, quando ainda não existia uma norma para
a homogeneização da fé dos aristocratas vândalos, “Naquela época, Genserico,
incitado por seus bispos, decretou que apenas os arianos seriam colocados nos
vários ofícios de sua corte e de seus filhos.” (VICTOR OF VITA, 2006, p.19), a
época que Victor se dirige nessa citação, está situado entre 439 e 455, pois de
acordo com Ian Hughes, nesse período, a segurança da paz com o Ocidente
permitiu que Genserico se dedicasse a eliminar opositores de seu reinado, mas
ainda assim, sem conduzir uma perseguição religiosa, nesse período, a fé dos
perseguidos teria sido uma mera causalidade.
Serge Lancel (2000) evidencia que a
escrita de Victor de Vita expressa um olhar etnográfico, classificando assim, a
população africana em três principais grupos "[...] os vândalos, os mouros
e aqueles que são designados constantemente de romanos." (LANCEL, 2000, p.1209), a partir dessa observação de
Lancel, pudemos refletir melhor sobre o uso do termo ‘romano’ empregado por
Victor, pois em sua narrativa, essa expressão mantêm-se sempre associada a
religiosidade católica, “[...] a Igreja Romana, que é a cabeça de todas as
igrejas.” (VICTOR OF VITA, 2006, p.40) e que, portanto, deve ser posta em
oposição aos vândalos-arianos e aos mouros-pagãos. Para Éric Fournier (2015) o
objetivo de Victor com essa classificação, não era apresentar as distinções do
período, mas forçar, através do elemento religioso, a criação de “[...]
fronteiras rígidas entre as categorias ‘romanos’ e ‘bárbaros’ [...] para evitar
que eles [romanos] não se tornem muito dóceis com a bajulação dos vândalos.”
(FOURNIER, 2015, p.106), portanto, sua obra tem a pretensão de desmoralizar o
Reino Vândalo através do exame do passado, e para conscientizar as populações
africanas que declaravam seu apoio aos vândalos.
A narrativa de Victor permite assim,
criar associações de identidades com um Estado ou nação na tentativa de incitar
a aversão as suas contrapartes. Outro fator que também precisamos considerar é
a data da obra, tendo sido escrito em 489, após a falência do Estado Romano no
Ocidente, a utilização do termo ‘romano’, juntamente com sua narrativa
acusatória, nos evidencia uma tentativa empreendida por Victor para associar a
população africana aos conterrâneos do Oriente, na tentativa de incitar o
Império Oriental a fazer guerra contra os vândalos devido às atrocidades que
eles estavam promovendo a população romana. O mesmo pode ser expresso quando o
bispo de Vita aponta para uma comunidade de etíopes que foram perseguidos no
reinado de Hunerico, como uma tentativa de criar conflitos entre o Reino de
Axum e o Reino Vândalo. Portanto, podemos observar que a escrita de Victor é
altamente reacionária.
As primeiras menções que abordam
relações políticas mantidas entre o Império Romano do Oriente e o Reino
Vândalo, relatam uma das consequências do tratado de paz de 476, Victor de Vita
apresenta uma intervenção de Zenão a Genserico, pedindo que as pessoas que
tivessem sido exiladas pudessem retornar a África, “[...] foi, com dificuldade,
aberta novamente, e todos retornaram do exílio.” (VICTOR OF VITA, 2006, p.23).
No ano seguinte, Genserico morre e seu
filho Hunerico o sucede, de acordo com Victor, nos primeiros anos do reinado de
Hunerico ele manteve boas relações com o Império, aceitando que Zenão nomeasse
um bispo para Cartago, em troca ele exigia que: “[..] Os bispos de nossa
religião [arianismo] que estão em Constantinopla e em todas as outras
províncias do Oriente devem ter sob seu comando, o direito de pregar ao povo em
qualquer língua que desejarem em suas igrejas” (VICTOR OF VITA, 2006, p.25). Para
Ralf Bockmann (2014) a exigência de Hunerico demonstra uma forte presença
vândala e gótica ao longo de todo Império Oriental, especialmente em
Constantinopla. Hunerico ao determinar que a língua vândalica e gótica pudesse
ser professada dentro do Império se coloca no mesmo patamar da atitude
intervencionista de Zenão, o que parece desagradar Victor, para ele, essa
condição poderia abalar a romanidade e estimular a cobiça pelo poder, “[...] os
homens maus haviam preparado o terreno para perseguição no futuro.” (VICTOR OF
VITA, 2006, p.26)
Victor de Vita apresenta que Hunerico
havia enlouquecido após alguns anos, “Esse homem, que até então, se mostrara
benevolente para todos.” (VICTOR OF VITA, 2006, p.28), inicialmente ele teria
perseguido seus irmãos e sobrinhos, bem como os seus apoiadores, e ao eliminar
todos seus adversários no poder, teria observado os católicos como inimigos de
seu reinado.
Victor de Vita cita após ter exilado um
grande número de católicos, o rei teria enviado uma carta ao bispo Eugênio de
Cartago “[...] na presença de Reginus, o legado do imperado Zenão.” (VICTOR OF
VITA, 2006, p.37), essa carta teria professado a intenção do rei em organizar
um debate entre católicos e arianos, entretanto, a presença de Reginus sugere
que Hunerico desejava evidenciar uma falsa tolerância aos ‘romanos’, o bispo
aceitou impondo a condição de que bispos de outras regiões do Mediterrâneo
pudessem comparecer, para Victor, essa ocasião foi utilizada para denunciar a
violência e a perseguição aos católicos na intenção de que Império Oriental
fosse mobilizado pela demanda dos clérigos que testemunharam a tensão religiosa
na África, Eugênio teria gritado nessa ocasião: “Que Deus veja a violência que
suportamos, que ele conheça a aflição que sofremos dos perseguidores!”
(EUGENIUS apud VICTOR OF VITA, 2006, p.44). Após esse debate, parece que o
Reino Vândalo sofreu uma advertência imperial, visto que, segundo o decreto de
Hunerico registrado por Victor, os católicos agiram com más intenções, e até
que esses clérigos se retratassem, suas igrejas deveriam permanecer fechadas.
A partir daí, no livro III é
intensificada a apelação por uma intervenção, chegando a insinuar que os
vândalos não reconheciam a autoridade imperial como válida para denunciar a fé
ariana como herética, “[...] eles não coraram de vergonha ao implementar contra
nós uma lei que nossos imperadores cristãos, buscando honrar a Igreja Católica,
emitiram anteriormente contra eles e contra outros hereges” (VICTOR OF VITA,
2006, p.64). É também nesse livro que se encontram relatos de martírios com a
correspondência de suas cidades, como um registro do que cada cidade ou região
sofreu sob o governo vândalo.
Nesse sentido, são apresentadas três
ocasiões que colocam o imperador Zenão em posições desconfortáveis, a primeira
é que Victor menciona que existia um clérigo martirizado “[...] digno de
reverência no palácio do imperador Zenão” (VICTOR OF VITA, 2006, p.76), como
pode ser observado, ele não aponta qual o posicionamento de Zenão em relação ao
clérigo, mas sua presença no palácio deveria ser para Victor, um lembrete ao
imperador de sua pacificação. A segunda ocasião, ele apresenta que um legado de
Zenão na África era constantemente ameaçado por vândalos, entretanto, é
improvável que o rei Hunerico estivesse disposto a romper a paz com Oriente, é
possível que Victor estivesse disposto a utilizar de recursos retóricos para
evidenciar a pacificação como uma ameaça ao Império, ele insinua que “Esta
conduta foi claramente para o opróbrio do Império e de nossa era, agora
chegando ao fim.” (VICTOR OF VITA, 2006, p.77), em seguida ele aborda a tortura
do bispo Eugênio que poderia ser compreendida como um desrespeito a uma
personalidade nomeada pelo imperador.
A narrativa de Victor de Vita aponta
para relatos de torturas e perseguições bastante detalhadas, seu estilo
narrativo apresenta características de escrita cênica com intenção de chocar
seu público-leitor e, servir como apelo ao Oriente para frear essas
atrocidades. Sua obra permite avaliar que o Império, ao se eximir de políticas
mais agressivas, teria sido cúmplice do martírio de sua própria população na
África, os chamados romanos-católicos.
Referências
Geraldo Rosolen Junior é Mestrando pela
Universidade Federal de São Paulo na Escola de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, campus de Guarulhos-SP. Pesquisador vinculado ao Laboratório de
Estudos Medievais (LEME/UNIFESP). Orientado pelo Prof. Dr. Fabiano Fernandes. Email: grosolen.junior@hotmail.com
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- What comparing cases in Carthage, Haïdra and Ravenna can tell us about
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STEINACHER, Roland. Die Vandalen: Aufstieg und fall
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Liverpool: Liverpool University Press, 2006.
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